A DÍADE E O PROCESSO EVOLUTIVO NO HOMEM
Adalberto Panzan
25/01/2021
É uma responsabilidade muito grande estar aqui, porque uma coisa é você estudar a Ontopsicologia, outra coisa é viver tudo isso. O nível de responsabilidade ao compartilhar esse conhecimento é algo significativo. Então vamos começar essa live de uma maneira muito tranquila, sendo que o conceito que eu vou tentar trazer e compartilhar com alguns exemplos que eu mesmo vivencio ao longo da minha vida é o de díade.
A palavra díade é definida como um movimento a dois no qual um movente não pode agir sem o seu correspondente heteromovente. Ou seja, quando você faz um movimento, o seu heteromovente também corresponde a esse movimento. Então é uma ação a dois. Trata-se de algo que é intrínseco à nossa existência. Eu diria de uma forma mais genérica que tudo é díade.
A natureza nos trás esses exemplos: temos um animal macho e um animal fêmea, eles precisam copular para fazer um novo ser. A relação entre a água e os peixes, um não vive sem o outro. Sem o ar os seres humanos não vivem. Se existir uma semente caindo no solo e o solo não estiver lá, também a semente não vai existir.
Esse movimento, quando colocamos na nossa vida, começa, por exemplo, na concepção: óvulo e espermatozoide. Esses dois núcleos estão em díade naquele momento.
Se pensarmos de uma forma mais prática, no nosso cotidiano, vemos que nessa relação de casal que resulta em um feto, quando nasce o bebê a sua relação mais direta foi com a mãe. Ele estava no corpo dela, no ambiente amniótico, por tanto tempo. Quando nasce essa díade é a primeira que conseguimos ver com mais clareza.
Para o ambiente dos seres humanos, a partir do momento do nascimento, a atração, a relação, a ligação, a coincidência, de experiências de vida entre a mãe e a criança é muito diferente, é muito mais forte do que outros exemplos de natureza. Vemos por exemplo no mundo animal, o touro fecunda a vaca, nasce o bezzero, quando ele desmama a mamãe vaca não fica ali todo o tempo até a vida adulta. Entre os seres humanos é diferente, a relação mãe e filho pode se prolongar por alguns anos. Tomo a liberdade de dizer que em alguns casos se prolonga pela vida inteira.
Então nessa primeira infância a criança está ligada à mãe. De uma forma mais conceitual essa mãe é denominada “adulto – mãe”, que não necessariamente é a mãe biológica mas a pessoa com a qual a criança desenvolve a máxima referência afetiva: uma avó, uma tia, o pai, babá etc. Essa ligação que se dá nos primeiros momentos da vida acaba permeando por vezes durante toda a vida.
A partir do momento que a criança se separa desse adulto mãe, aqui não necessariamente uma separação física, mas imaginem dois polos que se atraem e eu sou resultante desses dois polos, que para nascer preciso me separar dele, me distinguir. Se eu não conseguir fazer essa passagem que é o nascimento do eu, eu vou ficar eternamente ligado com essa díade da primeira infância.
A respeito do Nascimento do Eu, ao longo de todos esses anos de estudo, quando se falava dessa temática, parecia que era um encontro, uma data, uma ocasião especial. Depois com o tempo entendi que o Nascimento do Eu se dá a cada instante, em cada impacto, todo o dia. Quando eu faço a minha autenticação, eu me torno útil e funcional a mim mesmo e reforço a minha identidade. Então não se trata de um evento histórico que vai acontecer uma vez, é a vida. O eu nasce continuamente, cotidianamente, em cada instante que temos uma relação otimal com nosso projeto de vida, com o nosso ser.
Os quatro tipos de díade
- Díade Tanático-Regressiva
É a relação redutiva entre o adulto mãe e o filho.
O exemplo que comentei da pessoa que permanece ligada a sua referencia materna pelo resto da vida. Pode até ser que o prolongamento dessa relação não resulte em algo mais sério como uma doença, uma psicossomática… Mas existe a redução do nosso comportamento. Significa que eu fico ligado de alguma forma àquela primeira experiência que eu tive com uma coação a repetir. Então cada momento que eu viver algo novo, na vida pessoal, profissional, empresarial, social eu terei a tendencia a repetir aquele modelo de comportamento. Então fico ligado àquela díade, não consigo evoluir para além dela.
O que acontece quando essa situação se faz presente de alguma forma em nossas vidas? Não permite que o novo venha, não nos permite nascer, crescer, evoluir.
Então quando comentamos que uma determinada pessoa teve um comportamento infantil, são esses casos. Determinados comportamentos infantis não estão alinhados com escolhas ótimas, então são tendências de repetir comportamentos da infancia. Cada situação que somos impactados com uma determinada situação que se caracteriza pelos mesmos pressupostos daqueles da infancia, continuamos regredindo, ligados aquela díade do passado.
2) Díade Repetitivo-obsessiva
Coação a repetir sem possibilidade de crescimento, evolução.
Se dá quando um dos polos daquela díade não permite que o outro evolua e se cresça.
Não é o polo que segura de forma obsessiva, existe a responsabilidade dos dois. Um dos polos concorda e ambos ficam na relação repetitiva obsessiva.
Autenticação se dá quando somos verdadeiros com nós mesmos, comportamento intencionado pelo Em Si ônito, alma. Não somos autênticos quando nos desviamos desse projeto. Então entrar em qualquer um dos dois tipos de díades acima, é uma forma de auto traição, porque diminui a minha vitalidade, evolução. A alma quer ser, busca retornar ao ser. Tudo o que desvia esse projeto me diminui.
3) Díade evolutiva
Estimula o nascimento do Eu autêntico, me coloco igual à ação que sou.
O nosso propósito de vida é o da evolução, crescimento. Para encontrar o Nascimento do Eu, necessito das díades evolutivas.
O que pode impedir, qual o obstáculo que compromete o meu crescimento e evolução? Se continuar no circuito de coação a repetir, me comportando sempre do mesmo modo. A díade evolutiva se dá quando aquele polo mais forte me trás um estímulo ao nascimento do Eu, uma informação importante, positiva e me torna um crescimento, realização.
Os líderes são propulsores de díades evolutivas para muitos. Eles interagem com muitas pessoas. Se eles são autênticos, eles são um polo de crescimento para muitas pessoas. No percurso da Ontopsicologia, em um determinado momento, o Professor Antonio Meneghetti se dedicou aos líderes justamente por isso. Dedicou-se a evolução e autenticação dos líderes porque eles também fazem pedagogia e evolução para muitas pessoas.
Pode ser:
a) provisória e atuante – quando a minha relação com essa outra pessoa dá uma amplificação temática. Reforça, dá uma amplitude, ao que eu faço, falo, reforça a função e a identidade do que eu faço.
b) metafísica – quando aquele que intenciona age com o ôntico, com o ser.
O melhor exemplo de uma díade evolutiva é quando eu estabeleço uma relação com a minha alma, meu Em Si ôntico. Cada vez que entro em contato com esse critério e realizo reforço a minha identidade. Quando faço novidade, de forma útil e funcional, me faço crescer. A chave do nosso desenvolvimento está nessa construção de díades evolutivas.
O sujeito encontra um mestre da vida e o em si ôntico faz novidade, festa, alegria.
Aquela relação faz com que você cresça, não tem como andar para trás.
4) Provisórias Ocasionais
Ocorre no ambiente de trabalho, são de curta duração, pode acontecer nas nossas amizades, no espaço profissional, espaço social onde temos as nossas vivências, etc. Elas podem impactar positivamente ou negativamente, sendo elas funcionais ou não.
A maior dificuldade é como identificar esses 4 tipos de díades.
Como identificar uma díade funcional em cada impacto que eu tenho?
No encontro com um cliente, um amigo, uma negociação, como identifico se aquela díade daquele instante me faz funcional?
Existem três critérios para isso.
- Ausculta Organísmica
Como presto atenção no meu organismo como um todo. Como eu recebo aquela informação que está me impactando. Como ela impacta o meu corpo vivo, um incomodo estomacal, um frio na barriga, a sensação do campo semântico. Seja naquele instante ou em um período maior.
Se eu não prestar atenção na escuta a partir de dentro (ausculta) organísmica, eu já entro com um pé esquerdo naquela díade. - Qual o Escopo, qual a motivação, o objetivo daquele impacto?
Se eu entro em uma reunião de negócios, dependendo da situação, eu não posso pensar em sexo ou pensar em contar piada, não posso ter outro objetivo do que aquele que é o escopo daquela díade. Senão eu vou diminuir a força daquele escopo. - Manter o próprio profissionalismo e uma profunda dignidade de si mesmo.
Não trair o meu propósito, não trair a mim mesmo.
Não é simples nas relações do dia a dia estar atento a esses três critérios. Além disso existe uma tendência a repetir os velhos hábitos, as velhas formas de relações, são as díades que aprendemos na nossa infância e que nem sempre são funcionais para o nosso desenvolvimento. Agir conforme aqueles pressupostos comportamentais da primeira infância me reduz e não permite o Nascimento do Eu. Parece ser obvio e simples, mas são todos movimentos inconscientes. Uma coisa é a teoria, outra coisa é a prática. Então sem perceber terminamos repetindo esse comportamento que aprendemos na infância. Isso nos conduz às díades não funcionais, muito provavelmente entraremos ou em díades tanático-regressiva ou repetitivo-obsessiva. Por isso a importância dos três pontos que devemos estar atentos para as díades funcionais.
Os resultados sempre mostram e acusam os tipos das díades que foram estabelecidas. Isso porque muitas vezes é inconsciente.
Exemplo prático. Uma pessoa que sempre foi o piadista na família. Fazia piada para chamar a atenção dos pais, da mãe, todo mundo na família aplaudia. Quando essa pessoa cresce, vira um advogado, por exemplo. Pode ser que essa pessoa tenha dificuldade em ser levada a sério nos negócios. Quando quer comunicar uma mensagem de trabalho, faz uma piada, faz os outros rirem, gera uma certa incredibilidade por esse comportamento. Os clientes não levam ele a sério.
O que Meneghetti aponta nos textos é sempre um estímulo para a evolução. , é o que ele chama de Metanóia, a mudança da mente. A autenticação envolve uma mudança radical de comportamento. Porque a nossa essência, o nosso núcleo, ele quer evoluir. Por quê? Porque é um projeto específico que está no planeta terra e tem uma função específica. Para esse projeto aflorar é necessário de determinados meios. A nossa personalidade precisa atender a esse critério. Então ele indica formas de prestar atenção nos comportamentos, nas relações, para evoluti, para nos tornarmos conscientes. Entrarmos em relações funcionais para levarmos adiante o nosso projeto de identidade.
Eu mesmo, durante um período da minha vida não me levava a sério. Ocupei esse papel do piadista. O resultado sério não vinha. Eu era um cara legal, mas estava repetindo aquele comportamento do cara bacana. Por outro lado, já vivenciei muitas vezes o comportamento do turrão, não querer ser contrariado, dono da verdade. São formas que não deram certo, não foram funcionais para mim mesmo. De alguma forma esses comportamentos estão sólidos desde a primeira infância. Sem questionar a mim mesmo, de forma verdadeira, vou coagir a repetir e não vou entrar em díades funcionais.
A literatura não é tão extensa a respeito da díade. Tem passagens curtas em mais de um livro. O mais difícil é praticar esse conceito. A teoria não é complicada de compreender. O complicado é colocar em prática. Selecionar díades evolutivas.
Os resultados, os sonhos, são formas de você identificar os tipos de díades e os eventuais erros nas relações. É muito comum sonharmos com pessoas que geralmente julgamos: “Justamente o Fulano, eu odeio Fulano, ele é tão assim, tão assado”. Tudo aquilo que eu falei de Fulano aponta justamente um modo meu de ser, que eventualmente eu posso estar sendo ou que eu deveria desenvolver. Um modo funcional de relação que Fulano tem mas o sonhador não tem. Como se o inconsciente apontasse a forma correta de se relacionar para obter certos resultados. “Fulano é tão bravo, ele responde e discute tanto, eu nunca teria um comportamento assim”. Na verdade o sonho aponta um comportamento a ser desenvolvido em você. Um exemplo.
Outros estereótipos que aprendemos no interior da família está descrito na psicologia da genitura. Essa teoria foi falada pela primeira vez por Adler, um psicanalista da época de Freud. Professor Meneghetti retoma essa teoria e esclarece porque considera significativa por serem estereótipos predominantes nas relações.
Na psicologia da genitura não contamos apenas a ordem de nascimento, mas também o gênero. Então três filhos homens o mais velho será o primogênito, o segundo segundo gênito e o terceiro caçula. No caso de um filho homem, uma mulher e mais uma mulher nós teremos um filho único homem, uma primogênita mulher e uma segundogênita mulher.
Existem características que dizem respeito a essa posição na genitura de cada um dos filhos.
Ele também aponta os comportamentos dos gêmeos, dos filhos únicos. São as características decorrente dessa hierarquização na familia e justifica os comportamentos repetitivos entre as famílias. Caso não conseguimos transcender esse comportamento aprendido na família vou ter uma coação a repetir.
O segundogênito por exemplo, usa as roupas que sobraram do seu irmão mais velho, suas pilhas de fotos são menores, ele de alguma forma se sente mais rejeitado, não é mais uma novidade para aquela familia. Isso na maioria dos casos. Então o comportamento do segundo gênito será característico para chamar a atenção, para ir atrás daquele carinho, daquele reconhecimento, do afeto que “naturalmente” é do mais velho.
Meneghetti dá o exemplo da maçã. Uma maça na mesa, o primogênito entra, tenderá a deixar a maçã para os seus irmãos. Porque ele foi educado assim, a cuidar dos mais novos, proteger, ele é o cuidador. O segundogênito, rouba a maçã. Terá o comportamento de revolucionário, será bom em encontrar defeitos, perfeccionista, sabe identificar muito bem o defeito, o ponto fraco do outro. Isso porque ele precisa estudar bem o seu irmão mais velho para se diferenciar e ganhar o afeto dos pais. O segundogênito será sempre oposto do mais velho, se o primeiro é loiro, o segundo moreno, se um é mais calmo, o outro vai ser mais agitado, se um gosta de exatas o outro de humanas. Já o caçula é aquele que demora mais tempo para se colocar na vida de maneira mais firme, estuda tudo e todos e por último age. No exemplo da maçã é aquele que olha para mãe, olha para os irmãos, olha para o pai e diz carinhosamente “me dá a maçã?”. Um sorrisinho conquistador. O filho único vê a maçã e come, é dele. Ele sempre teve tudo para ele, nunca precisou dividir.
Esses são comportamentos que temos com base na relação com a mãe. O adulto mãe é o principal fator de disputa afetiva na família, porque as crianças dependem desse adulto mãe para tudo. Porém essa é uma díade infantil, lá da infância. Quando adultos se repetirmos esse modelo, entraremos na díade tanático-regressivo.
Esse é um capítulo denso, está no nosso cotidiano, dentro da preparação para identificar as díades evolutivas também é importante ter esse tipo de conhecimento.
Imagina que eu como primogênito entre numa reunião com um empresário que é segundo gênito. Esse estereótipo pode antecipar a relação de forma inconsciente, vou acabar respondendo conforme aquele estereótipo no qual eu fui educado. Os da infância são aqueles mais presentes, então por isso a importância de conhecer eles. Se eu não conheço, eu não sei que a minha tendência é tal. Conhecendo é possível se preparar para isso.
Tudo é díade, pode ser evolutiva ou não. O ser humano vive em relação diadica, esse é o fato. Daí que entra o papel do líder nesse desenvolvimento. Responsabilidade do líder ao estabelecer essas díades evolutivas para o benefício de tantos. O líder é um operador social. Se faz bem feito, os frutos sociais são muitos. Inexorável a responsabilidade que o líder deve ter com ele mesmo e com os demais em todas as esferas.
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