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Série 40 Lições – Aula 10

A Estrutura e a Dinâmica do Homem Profa. Maria Luiza Bazzo

A ESTRUTURA E A DINÂMICA DO HOMEM

Maria Luiza Bazzo
18.01.2021

Este é um capítulo dorsal, a espinha dorsal da Ontopsicologia, um grande compromisso. Um capítulo bastante teórico e conceitual.

A fonte da aula de hoje é:
Meneghetti, A. Manual de Ontopsicologia 4 e.d. Recanto Maestro, 2010
Cap 4 A teoria Ontopsicológica da Personalidade

Algumas pessoas que já leram o capítulo podem ficar muito tranquilas com a minha fala, mas quem não leu é preciso pensar que é uma primeira abordagem. Então é uma primeira leitura, que nós vamos fazer em grupo, mas depois será necessário voltar, rever conceitos. Nós, operadores da um psicologia, precisamos nos apropriar desses conceitos e, portanto, talvez hoje a live seja um pouco mais assustadora para quem está começando. Espero que não.

Falo então incialmente sobre a estrutura do homem e depois da dinâmica do homem, que é o item 4.1 e 4.2 deste capítulo. Estou realmente tentando ficar é no que está escrito naquele capítulo.

Então no comecinho desse desse capítulo Meneghetti contextualiza a ontopsicologia e escreve que ela é uma ciência que tem como fim: 

“a) eliminar o sintoma divisor organizando o sistema psíquico do indivíduo.
b) conhecer as estruturas portantes daquele saber que objetiva função específica do homem no seu contexto natural”.

Então são finalidades grandes, ousadas, porque quando ele fala sobre eliminar o sintoma divisor, está tocando justamente na divisão entre consciente e inconsciente. Com isso identificamos que essa possibilidade vem de encontro com o processo da autenticação. 

Autenticação significa me pôr igual ao que eu sou.

Grego ἀυτὀς ἐν τἰθημι ἄγω = eu me ponho igual à ação que sou.

A autenticação dá a passagem para que se possa obter a reversibilidade entre a pulsão do Em si e do Eu lógico histórico. 

O ponto b) da finalidade da Ontopsicologia “ conhecer as estruturas portantes daquele saber que objetiva função específica do homem no seu contexto natural.”  vai de encontro com a relação entre o Em Si ôntico, Eu a priori e da possível atuação em concordância com o Eu lógico histórico. 

Baseado nisso, ele monta esse capítulo trazendo em vários momentos os conceitos Em Si ótico, Eu a priori, Eu Lógico Histórico, Monitor de Deflexão, Complexos, Estereótipos e assim por diante. Então vocês vão ver que eu vou me repetir algumas vezes, mas apenas estou repetindo aquilo que o capítulo tem. Meneghetti no capítulo traz esses conceitos, faz um fechamento entre eles e depois volta e abre um pouco mais, trazendo algum conceito ou informação nova e assim o leitor chega ao fim do capítulo compreendendo que são estruturas muito importantes.

Ele continua dizendo “A Ontopsicologia é a indagação científica dos processos mentais em todos os seus aspectos, compreendidos aquele do ser.”

Quando ele inclui os aspectos ontológicos, ele está se referindo a um discurso atinente ao real. Real porque deriva do ser e a qualquer fenômeno seu, qualquer fenômeno do ser.

Quando Meneghetti fala do Ser, ele entende 3 dimensões: 1) um Ser metafísico ou transcendente, ou Ser como Deus em sentido laico (com s maiúsculo); 2) um ser comum, ser como participação universal de todas as coisas; 3) um ser individual, ser como participação de mim existente aqui e agora.

O mediador dessas três realidades é o Em Si ôntico. 

“A Ontopsicologia é uma ciência que analisa os processos mentais em conexão com o problema ontológico. O problema Ontológico significa interrogar-se quem sou, de onde venho e para onde vou”

Quer dizer que não é uma questão só de sobrevivência, eu quero mais, eu quero saber, eu tenho sede de filosofia.

“Portanto, ele busca a causa primeira e como está coenvolvida aonde eu existo.”

“O problema fundamental da onda psicologia é’ o que é o homem?’. Para esse problema a Ontopsicologia tem condições de dar solução científica”. Indagando os parâmetros da ciência Ontopsicologica Meneghetti explica que o homem revela-se assim constituído:


Esse é o gráfico da Estrutura Psicossensorial do homem. A figura mostra a imagem gráfica de um indivíduo constituído em parte por um consciente e em parte por um inconsciente. Na parte consciente verificamos o Eu Lógico Histórico, a sua consciência e na sua enorme parte insconsciente temos o Em Si ôntico, o Eu a prior, o Monitor de Deflexão e os complexos. Nós vamos trabalhar todos esses conceitos. 

Em relação ao Em Si ôntico, o que a figura nos mostra, representada por essa flecha, é que é uma informação totalmente direta, não existem meias palavras: ou é, ou não é. 

Em contrapartida, eu posso ter as informações chegando de forma que elas passem pelo Monitor de Deflexão e deflitam na consciência. Essa informação não chega de forma direta, chega defletida, portanto não é uma informação real, é defletida.
Isso que conseguimos ver de uma forma mais geral nesse gráfico. 

Meneghetti fala que “Esse gráfico é o constante mapa operativo da pesquisa e  intervenção da Ontopsicologia. Essa estrutura consente identificar e variar a  atividade psíquica da imagem ao concreto”. 

A partir dessa figura a Ontopsioclogia faz suas perguntas e dos componentes dessa figura a ontopsicologia tem seus instrumentos de intervenção. Quando Meneghetti fala da imagem ao concreto ele diz que épossível variar a atividade para que a imagem no concreto, a imagem do Eu lógico histórico que será agida, deve ser a imagem emitida pelo Eu a priori. Dessa forma o sujeito não é objeto da imagem do Monitor de Deflexão. 

Ele faz três definições baseadas nessa imagem:

.

“a) Em Si: uma causalidade poderosa que sustenta tudo, mas  bastante indiferente, no sentido de que é uma energia aberta.”

É aberta porque se especifica em cada indivíduo, está especificado em cada um de nós. Os modos de aplicação depende do tipo de lugar onde a pessoa vive, sua cultura, família e assim por diante. Embora tenha sua participação universal, o Em Si do homem encarnado, por ser uma energia aberta, tem a oportunidade de se especificar no local onde ele está sendo atuado. 

O Em Si ôtnico pode se adaptar e evoluir na ecceidade do momento. Esse conceito é importante. Ecceidade significa ser exclusivamente aqui. Então o Em Si ôntico age, se adapta, evolui nessa ecceidade do momento, no aqui e agora. Para o Em Si ôntico não tem passado nem futuro, é o agora. 

Em seguida ele define o Eu.

“b) Eu: uma estrutura poliédrica que especifica o Em Si em  individuação. “

Trago aqui o exemplo do poliedro, que é uma estrutura com várias faces, vertices e arestas. Isso significa que o Eu tem a possibilidade de atuar de varias maneiras de acordo com a necessidade. Tem a oportunidade de várias relações. 

Em seguida define o Monitor de Deflexão.

“c) Monitor de deflexão: dispositivo de operações lógicas, algo  que se ativa como parasita e se move síncrono à consciência e ao  orgânico-homem”.  

Ou seja, ele é uma estrutura deformante das projeções ao real e age síncrono a consciência e ao orgânico do homem, portanto é facil acharmos que estamos atuando o Em Si ôntico quando na verdade somos objetos do Monitor de deflexão.

Meneghetti em seguida fala que à luz disso, podemos examinar: 1) como é agora o fato homem e qual a direção que esse fato homem deva evoluir. Qual é o fim e, caso o fim daquele projeto, daquele ser humano não se verifique, ocorre  a discrepância. 

Além desses três elementos, Em Si ôntico, Eu lógico Histórico e Monitor de Deflexão, não preciso de outros elementos  para compreender o homem, seja em nível teórico ou prático.

Nesse contexto, deste capítulo ele praticamente não toca no conceito de Campo Semântico. Esse conceito está interligado com a imagem de Eu a priori. Precisa lembrar que é a comunicação básica que a vida usa no interior das suas individuações. Então embora tenhamos todas essas estruturas, o Campo Semântico participa de todos os processos. 

A partir disso, Meneghetti aprofunda os conceitos no capítulo. 

Em Si ôntico

“a) Em Si  

É o gerador contínuo que atua a própria formalização histórica  através do momento do Eu a priori. O Eu a priori é a reflexão  última entre Em Si ôntico e situação histórica. Ele reflete a posição  ou autóctise histórica formalizada pelo Em Si ôntico. O Em Si é a  ecceidade do ser na existência. Possui a faculdade de presenciar a  existência, onde o ser se apela segundo a forma individuada como evento único em três momentos dialéticos: Em Si – Eu a priori – Eu  lógico-histórico”. 

O conceito de autoctise histórica é o processo histórico de escolha existencial que faz a resultante evolução pessoal. Um processo de autoconstrução. Gerador que atua a própria formalização histórica por meio do Eu a priori e por isso é possível o crescimento. 

“O Em Si dá a discriminante de ser ou não-ser, o Eu a priori dá o otimal (o dever estético) e o Eu lógico-histórico dá o fato existencial último”. 

Em  seguda o autor apresenta o conceito de Eu Lógico Histórico. 

Eu Lógico Histórico

“b) Eu lógico-histórico  

‘Eu’ é anterior a tudo (antes do nome, de homem, de mulher, de pessoa): ‘Eis­ me!’. É a função fenomenológica da realidade histórica, o ângulo ótico de tomada de contato, o ponto de relação único daquele lugar de existência. Afirmado esse princípio, resulta que o Eu é a sede de todas as relações possíveis. A posição existencial que se categoriza como Eu determina a multiplicidade das relações. Se o observo de maneira mais distanciada, posso também defini­ lo como o ponto de tomada de consciência do quanto existo, o lugar-momento onde posso controlar a totalidade do meu existir. É o ponto de síntese que examina a imagem que depois fará categoria, excluindo então as outras. No início, a criança colhe-se como “mim”, ou seja como projetado, e somente em um momento sucessivo – quando faz a tomada de consciência (seis meses) – colhe-se como Eu. A partir desse momento começa o uso da razão, ou seja, o pequeno compreende que, segundo onde se posiciona, obtém efeitos diferentes. O Eu é aquela função mediante a qual o sujeito autocolhe-se, é medido e mede. A responsabilidade civil e moral nasce do fato de que existe um Eu”.

O Eu lógico histórico é que pode dar o protagonismo para a individuação. Lá no começo o eu falou que o Eu é poliedrico, porque é capaz de multiplicidade de relações. Nos ajuda a construir esses conceitos.

Monitor de Deflexão

“É uma estrutura permanente, não vital, que se simbiotiza, ou seja, não se toma conatural, permanece diferente”. 

A simbiose, é um conceito de interação entre duas espécies que vivem juntas. Essa parte do conceito de simbiose que podemos aplicar aqui. No conceito da Biologia, vamos ver que continua com uma vantagem entre as especies que convivem. Mas Meneghetti deixa claro que simbiotiza, vive junto, está junto, mas permanece diferente. 

“Em si pode ser indiferente, ou seja, não é negativa, todavia é diversa. É um desenho em situação especular no interior das sinapses, um programa acumulado no interior das células cerebrais”.

É especular no sentido único. Se olharmos no dicionário vai aparecer duas formas, mas vamos utilizar uma apenas, especular no sentido de espelho. Capacidade de formalizar imagem e projeção sem interação. Espelho. 

“É uma ação sincrônica à pulsão vital, mas com interferência especular: move as células deixando-as intactas, exatamente com a imagem reflexa no espelho, que se reflete mas não modifica a matéria da qual o espelho é feito. O mecanismo entra em movimento automático tão logo o Em Si gere e tipifique-se em Eu. A sua ação anula a reflexão do Eu a priori”.

Esse é o seu problema, ele age imediatamente, então se a pessoa não tiver a sua centralidade, pode muito facilmente achar que está fazendo uma escolha otimal e autentica, quando não passa de um objeto do Monitor de Deflexão. 

Interfere antecipando e defletindo a reflexão egoceptiva. Enquanto a percepção sintetiza, a partir de diversas coisas, o que é relativo à egoicidade, o monitor de deflexão fixa um programa e o toma prioritário a todos os outros”. 

Imagem repetitiva é o Monitor de Deflexão, novidade, criatividade, é a relação do Em Si ôntico e Eu a priori. 

“O mal está no fato de que – enquanto em qualquer outro programa adquirido o homem sabe que é distinto e decide se e quando usá-lo – o monitor de deflexão convive, antecipa, modifica, e o sujeito não o sabe. Nem mesmo suspeita da sua existência, porque conhece a si mesmo depois que o monitor já agiu. Disso se origina o inconsciente. A vida, por sua natureza, caminha na direção da visão de si. O monitor de deflexão desvia e impede a visão (deflexão).

Descobri esse mecanismo especular investigando as imagens que se dão no interior da reflexão humana. Através de tais análises, vi que entre elas, sempre havia uma mais forte, prioritária a qualquer outra, mas não tinha nenhuma correspondência de realidade.

O homem, no seu organísmico completo, apresenta uma dinâmica que resulta inconsciente. O inconsciente é o quântico de vida psíquico e somático que o indivíduo é, mas do qual não é consciente e que, contudo, age para além da lógica da consciência. Na parte mais superficial estão localizadas as estruturas complexuais.

A essência do inconsciente corresponde ao Em Si do homem. O inconsciente não é tenebrosidade de monstros ou caos, mas ordem perfeita da vida no ser humano. É o conjunto global das informações contínuas provenientes do ambiente. A vida, ao individuar as diversas existências, jamais detém o seu curso. Portanto, não gera indivíduos independentes, mas os posiciona em continuidade dinâmica (Fig. 8).

Nós somos continuamente gerados pela vida. O indivíduo é a resultante de numerosas vetorialidades do dinamismo vital. Mesmo depois do nascimento, ele jamais é realmente autônomo, uma vez que é sustentado constantemente por esse habitat. “

Embora o desenho do gráfico mostre o Em Si ôntico localizado exclusivamente no inconsciente, quando Meneghetti define as características ele fala que está presente inteiro e em tudo. Ele não tem uma sede, embora esteja inconsciente a nós. Está presente em tudo e inteiro no nosso organismo. 

O contínuo dinâmico da vida

Em seguida, no capítulo, Meneghetti volta ao conceito do Em Si ôntico, dizendo:

“O primeiro real, em qualquer sentido do indivíduo, é o Em Si. Podemos especificar o Em Si através de diversos atributos: ôntico, do homem, organísmico, naturístico, dependendo de quais das suas relações desejamos entender:

  1. Em Si ôntico: entende-se um modo genérico, universal, o Em Si de qualquer forma existencial (planta, anjo, animal etc.). 
  2. O Em Si do homem: define um Em Si ôntico segundo a modalidade homem, ou seja, a constante H. A constante H é a forma que especifica e define a individuação homem; é um modelo ou princípio que dá a constante existencial distintiva do humano’.
  3. Em Si  organísmico:  compreende  o aspecto biológico e

psicológico, é a experiência psicoemotiva que advertimos também como consciência na fenomenologia da nossa vitalidade.

  1. Em Si naturístico: é o total do Em Si organísmico no

holístico ambiental. É o feixe dos instintos positivos, desejos totais e inocentes, finalizados exclusivamente em uma forma de narcisismo e prazer no fato de existir”.

Quando deitamoss na grama, olhamos para o céu, é um momento de vivenciar o Em Si naturístico. Não estamos pensando em problemas, simplesmente se sente a presença e contempla a natureza. 

O exemplo da gaivota, quando elas estão pescando para comer, mas muitas vezes vemos elas na água boiando no mar. Vemos que elas estão vivendo um momento de narcisismo, de prazer do existir. Os  animais nos servem de exemplo como analogia do Em Si naturístico. 

Complexos

“Os complexos são tantos pequenos ‘Eu’ prefixados, mecanismos de defesa da natureza surgidos depois que o sujeito, durante a infância, aceitou o compromisso com uma situação antivida. São partes reais da natureza que o Eu censura e se desenvolvem de modo autônomo.

Baseado em uma lei de equilíbrio da energia, na medida em que o Eu luta contra ele e rejeita um modo de si mesmo, o complexo se reforça. Esse princípio justifica também o deslocamento do sintoma (por exemplo, o sujeito, inicialmente alcoólatra, deixa de beber mas começa a tomar-se muito deprimido)”.

Esse exemplo explica que muitas vezes o motivo da bebida poderia estar num desejo reprimido ancorado no complexo, e na hora em que mexemos nisso não resolvemos imediatamente, muda a direção. 

“O complexo não pode ser eliminado, pelo fato de que é sempre o real do sujeito. É uma zona removida que deve ser investida de uma forma nova; tolhida da fixidez do estereótipo, desenvolve-se em circularidade de poder do Eu, o qual adquire um exército a mais”.

Então na medida em que uma pessoa consegue trabalhar o complexo ela consegue expandir mais o eu e a sua consciência. 

“O complexo é a resultante de compromisso entre a pulsão da natureza e o filtro desorganizador do monitor de deflexão.

O monitor de deflexão se simbiotiza com um modo comportamental adquirido na infância. Ele, assim como qualquer tipo de desvio ou interferência, entra sempre no momento da natureza frustrada. Frustração significa que a natureza não pode se prover na lógica específica da própria intencionalidade, portanto fica anômala. A frustração é a ocasião para a inserção da distorção.

 Por exemplo, a criança aproxima-se da mãe porque quer gratificação; a mãe frustrada, em subcódigo, lhe diz: “Ou estás do meu lado ou não terás nada!”. A criança, para ser vencedora na democracia familiar deve adaptar-se à mãe, exorbitando, porém, da própria norma de natureza”.

Quando se fala em adulto mãe em Ontopsicologia estamos falando do adulto de máxima referencia afetiva para a criança, não necessariamente a mãe biológica. Então nesse parágrafo ele coloca o exemplo da criança que abre mão da sua natureza por uma afetividade que entra em primeiro plano. Para manter a afetividade na democracia daquela família. 

Matriz Reflexa

“A situação em que se dá o primeiro sincronizar-se do monitor de deflexão à atividade cognitiva humana, constitui a ocasião (casual e não causal) sobre a qual se apoia e se forma a matriz reflexa, que é o traçado mnêmico dessa situação-ocasião”.

O traçado mnéstico é um modelo de comportamento formado nas primeiras passagens vitais, que passa a ser uuma categoria que vai determinar as experiências últimas. Esse traçado mnéstico é que faz com que usemos um passado bem sucedido depois como solução nas situações do meu mundo presente. 

Por exemplo, quando eu era criança, eu chorava quando tinha um problema, dizia que tinha dor de garganta, ganhava um guaraná, ficava feliz e ganhava meu afeto, atenção do adulto mae. Depois na vida adulta, no caso de uma dificuldade eu choro como fazia na infancia e não tenho tantas vantagens na vida. 

Em Seguida Meneghetti entra no conceito da palavra Matriz. 

“Matriz enquanto se faz imprinting e programa de todas as experiências sucessivas e da estrutura egóico-comportamental; “reflexa” porque age de modo especular, ou seja, por indução de imagens. A matriz reflexa é a imagem individual primária através da qual se insere e se fixa o mecanismo do Monitor de Deflexão”.

Ela vai fazer a introdução, a especificação e a estabilização do esteriótipo base. A partir desse esteriótipo base que o sujeito seleciona todos os outros na vida. 

“A matriz reflexa se forma através da afetividade ótica, um contato ocular de ódio chantageador entre o adulto-mãe e a criança em uma situação qualquer, com o reforço do campo semântico e da condenação do superego por parte do ambiente adulto. O pequeno, para ter a gratificação do adulto, é falso em relação à própria verdade; primeira falsidade de uma longa cadeia sobre a qual o complexo se articulará”.

Fiz um esquema para auxiliar na compreensão desse processo.

Nesse gráfico, representando uma a criança entre 0 e 6 anos que ainda não tem a matriz reflexa, ela não possui uma divisão significativa entre o inconsciente e consciente. Então, não tem o superego, as regras, vai fazer o que quer fazer num determinado momento que é bom para ela. Na hora que tem fome chora, precisa ir ao banheiro, etc. Sente a necessidade e faz. Direção entre o Em Si ôntico, o Eu e a ação.

No segundo gráfico temos a apresentação do momento de inserção da Matriz Reflexa. A Insersão se dá por meio da afetividade ótica ou o contato ocular de ódio intimidador entre o adulto mãe e a criança. Então temos no gráfico a figura da mãe, um adulto organizado, estruturado com seus complexos, seu monitor de deflexão e é uma pessoa  plenamente adaptada ao superego social. Então tem seus conceitos e suas morais. Num determinado momento esse adulto mãe, estando num momento de frustração, algo que não vai bem, reprime a criança no olhar com reforço do campo semântico. A criança pode estar fazendo algo muito simples, uma fruta que estava na mesa e ela pega. “Se você pegar eu não te amo mais” – uma informação, não necessariamente verbal. A criança se sente culpada, sente que não deveria ter pego e reprime, mente para si mesma que desejou a maça. Sente culpa a partir dessa reação da mãe. Aí então funda-se o inconsciente. Aquela criança que tinha uma comunicação direta entre o Em Si ôntico, eu e ação passa a ter a possibilidade do desvio do Monitor de Deflexão. Sobre ele ancoram-se os outros complexos. 

“O complexo é o precipitado psicoemotivo do monitor de deflexão: a imagem matriz, uma vez metabolizada cerebralmente, é investida emocionalmente pelo organismo.

 A matriz reflexa é a pré-disposição à estruturação dos estereótipos. Ela insere um código com base ao qual o estereótipo se articula. As doenças, a fisiognômica, as obsessões mentais e tudo o que se define destino, tipificam-se conforme o gênero de estereótipo.

O monitor de deflexão, sobre a primeira base, atualiza os próprios desvios. Quando, nos sonhos, vemos sempre as mesmas pessoas, os mesmos ambientes, as mesmas cenas da infância, não é senão a reestabilização do monitor de deflexão sobre novas dinâmicas. Ele retoma as primeiras memórias e as restaura com pulsões dinâmicas atuais. Sobre o estereótipo primordial familístico escorre a novidade atual e contínua da dinâmica existencial”.

Em virtude dessa explicação, da informação ocular com reforço de campo semântico, a afetividade ótica faz com que a definição do complexo fique fácil de enteder “precipitado psicoemotivo”.  Existe uma afetividade na repressão.

Esteriótipos  

“O monitor de deflexão age mediante estereótipos. Um estereótipo é uma estrutura mnemônica que coordena um comportamento de acordo com algumas funções de adaptação. O indivíduo pode ter de uma a três funções de estereótipo psicológico, cada uma das quais com memórias próprias, que se ativam em concomitância com a adaptação histórica do sujeito. Por exemplo, em uma pessoa pode ser articulado em possessividade, sexo, ambição; em outra, dinheiro, agressividade, sexo etc. Os estereótipos são virtuais e se especificam, a cada vez, segundo a combinação em ato. Eles formalizam o quântico do complexo”.

Meneghetti em outras obras explica que existem em torno de 12 esteriótipos e que são utilizados de maneira diferente pelas pessoas. É possível separar as pessoas pelos estereótipos que elas usam. 7 milhoes de pessoas no mundo compartilhando mais ou menos 12 esteriótipos, é incrivel de ver essa adaptação das pessoas. 

“O estereótipo em si é neutro, tem um polo positivo e um negativo. Os estereótipos podem ser também funcionais, isso é, revelar­ se corrimãos técnicos que facilitam enormemente o processo existencial. O modo em que somos organizados biologicamente também se baseia em pressupostos técnicos da matéria, ou seja, um estereótipo da vida que mantém estável uma organização continuamente em ato. Em cada estereótipo, uma ramificação (o polo positivo) é sempre funcional. Depende do modo com que esses estereótipos são usados, porque são instrumentos de ação.

Quando você conhece os esteriótipos você utiliza com seus objetivos, não sofre ele, é capaz de relativizar. Isso é um sinal de uma consciencia mais elevada. 

“A grande personalidade é aquela capaz de relativismo dos estereótipos. O homem que não é livre interiormente, ao invés, fica limitado a um só estereótipo, do qual se toma executor. Dia a dia, no seu modo de se olhar, de se lavar, de fazer ou pensar, em todas as suas livres associações, caracterialmente confirma a sua imagem matriz que, apesar de ser fixa, é continuamente reelaborada”.

Eu pulei aqui algumas páginas, mas entro no capítulo 4.2 para finalizar. 

Dialética do Homem

“A interação dialética entre Em Si ôntico, Eu lógico-histórico e  Monitor de Deflexão determina toda a vida do homem: o Em Si é  o starter da vida, o Eu é a tomada de consciência que controla a  situação e, conexo, há o Monitor de Deflexão, inserido no interior de determinados processos sinápticos cerebrais.  

Do agir desses três elementos temos duas possibilidades:  1) Relação Em Si, Eu a priori, Eu lógico-histórico6.  O Em Si ôntico é o projeto-base de natureza que constitui o ser  humano. É o princípio formal inteligente que faz autóctise histórica;  o ponto primeiro do qual uma individuação começa a determinar se, o princípio que faz ser ou não-ser, existir ou não existir”.

Esse princípio formal é o que faz com que você tenha imagens na sua consciencia que te permite tomar decisões no dia a dia.   

“Ele constitui o critério-base da identidade do indivíduo, seja  como pessoa, seja como relação.O homem produz autorrealização, quando a sua ação é conforme, ou iso, ao próprio Em Si ôntico. O Eu a priori é a forma virtual do Eu antes do acontecimento histórico, portanto é a configuração da solução otimal do indivíduo no ambiente, aqui e agora. É a reflexão da ação do Em Si organísmico em situação histórica e define a ética otimal da ação. O Eu a priori e o Em Si ôntico são sempre conexos e se refletem.O Em Si ôntico dá o real, o Eu a priori dá a forma, a virtualidade, ou seja, o “como” o sujeito deve desenvolver-se.

O Em Si tem um potencial quase infinito, porém, atua-se  historicamente segundo as coordenadas que são dadas pelo  ambiente e pelas escolhas que o sujeito faz.  

O ambiente já falamos, de onde mora, cultura, como vive, etc.

“O Eu lógico-histórico – ou Eu voluntarista pensante, ou Eu  agente responsável – é a capacidade de mediar o real externo  segundo a exigência individual do íntimo. É a função de concretizar  o real segundo a exigência introversa ou extroversa”.

O eu lógicoo histórico precisa ter a capacidade de leitura do Eu a priori mas a capacidade de atuar, tendo consciencia do Em si ôntico é nececssario a atuação. O Eu Lógico Histórico faz a mediação, porque as vezes a passagem do Em Si ôntico não é tão facil de ser atuado. 

Utilizamos no nosso cotidiano a expressão intuição. 

Que a intuição é infalível, vai no ponto. Aqui vemos uma descrição tecnica. Porque nosso corpo vivo, em interação com o meio, faz uma seleção do otimal naquela circunstancia. Se eu tenho fome, eu vejo com precisao o que eu tenho que fazer, se é cozinhar a refeição ou almoçar num restaurante. 

Pode ser uma situação tão fácil quanto uma alimentação ou mais complexo. 

Quando essa solução otimal é alterado, defletido e eu me uno com o objeto errado, ou é muito desafiador e o eu não considera viável. Eu acho que não consigo, não é para mim. Mas se você teve a intuição é para você. 

“De fato, a evidência cotidiana demonstra a enorme frequência  de um Eu fictício, ou seja, de um Eu não autêntico, que não é capaz  de agir a própria identidade de natureza.   O homem verdadeiro é aquele que possui o Eu lógico-histórico  em ação unívoca com o Eu a priori.  

Esse é o resultado da intencionalidade do Em Si ôntico, que  consiste em levar a pessoa à autorrealização. Isso é possível à luz da condução do Eu a priori”.

“Se o Eu lógico-histórico executa o optimum, encontra-se como  Eu Sou e isso é consciência ôntica.  

Em Si ôntico, Eu a priori e Eu lógico-histórico constituem a  tríade do devir”.

Vir a ser, tornar-se transformar-se. 

A outra dinâmica no homem que ele pode vir a ter pode ser:

“2) Relação monitor de deflexão, matriz reflexa, complexos,  memes, estereótipos, superego, Eu lógico-histórico”. 

 A inserção do monitor de deflexão pode ocorrer de dois modos ou pela afetividade com pessoas próximas ou diretamente por meio de alucinações, usos de psicotrópicos, alucinógenos, sonhos, situações de transe, por ocasião de uso de psicotrópicos,  alucinógenos ou drogas, visões hipnóticas, oblações místicas,  estados rituais com forte perda de orientação racional. No momento  da inserção o sujeito sofre um indeterminado fora de si e essa é a segunda forma de inserção do monitor de deflexão.

“A matriz reflexa é a situação-ocasião que o monitor de deflexão  assume como própria cena primária para constelar a emotividade  do sujeito. É o codificado-base da especificidade do complexo  e dos estereótipos do indivíduo. A matriz faz a introdução, a  especificação e a estabilização do estereótipo cardinal. Essa  matriz é um estereótipo dominante que, depois, consente os outros,  impondo uma seleção temática. O sujeito, daquele momento em  diante, é marcado para ser sempre daquele modo, a menos que um  dia consiga tomar-se autônomo, reconfigurando em si mesmo a  coincidência entre Eu lógico-histórico e Em Si ôntico.” 

Essa é a passagem que a Ontopsicologia pode dar. Mesmo o sujeito baseado na situação ruim, onde não cresce, está estabilizado, ele pode retomar o crescimento dele e o contato com o Em Si ôntico. O erro sempre acontece quando a criança metaboliza a política psíquica do adulto, um fato externo em si. A criança é passiva, sofre e vejam bem o tamanho da responsabilidade do adulto na educação da criança. 

Justamente por isso, o autor escreve o livro “Pedagogia Ontopsicológica” para minimizar esses acontecimentos de frustração. 

Em resumo, entre as possíveis  dinâmicas do homem, a relação Em Si ôntico, Eu a priori, Eu lógico Histórico, constitui o que o autor chama de tríade do devir, que é uma relação vencedora. A práxis da Ontopsicologia possibilita ao homem, relembrando o início da aula:
“a) eliminar o sintoma divisor organizando o sistema psíquico do indivíduo.
b) conhecer as estruturas portantes daquele saber que objetiva função específica do homem no seu contexto natural”