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Série 40 Lições – Aula 05

A práxis do critério organísmico Prof. Enrico Torrice

A PRÁXIS DO CRITÉRIO ORGANÍSMICO 

Enrico Torrice

A aula de hoje diz respeito a Práxis do Critério Organísmico, é um argumento muito importante, vasto, que envolve a capacidade do homem em conhecer a própria realidade. Tudo que falo nessa aula se direciona em pontos: 1) a incapacidade da estrutura racional gerida unicamente pelo nosso cérebro de permitir o conhecimento do real; 2) a capacidade do Critério Organísmico de conhecer a realidade.

A Ontopsicologia tem o seu critério de conhecer a realidade. Então toda a vivência humana se articula sobre um ponto fundamental, que é o conhecimento da realidade.

As análises científicas que foram feitas na história da humanidade apontam que o homem de fato não tem essa capacidade de conhecer a realidade. A própria Igreja Católica Romana, que se coloca como conservadora da sabedoria humana, se limita na época 350d.c com Santo Agostinho, que afirma que o Homem pode conhecer o real somente com ajuda de Deus.

Vamos ver os particulares de como se dá a consciência na existência humana.

Visão de Homem na Ontopsicologia

O Homem é hilemórfico, Hile = matéria e Mórfico = projeto, soma, forma. O que significa que o homem é uma matéria que é envolvida por uma forma, um projeto. Dupla ecobiologia, o devir da matéria depende de uma forma, um projeto.

Até mesmo as árvores funcionam dessa maneira. A beleza das folhas vêm de uma parte que não se vê, de onde se tem as raízes. Assim também é o homem, porque suas raízes estão no transcendente, a gente vê a matéria, mas as raízes do homem são transcendentes, não vemos. 

O homem é uma unidade de ação. De fato, o homem age continuamente na vida. Mas de que forma essa ação influencia o homem? Existe de verdade um livre arbítrio ou o homem não é livre de agir de maneira indeterminada?

Na sua vida poderia ser tanto alegria quanto o inferno, depende da capacidade de decidir a ação. Tudo isso depende do critério que ele utiliza como discriminante da realidade.

O Homem é natureza. Me agrada muito a etimologia da palavra natureza. Natureza tem o na que indica nus, a mente,o espírito, depois o “t” que vem do grego que significa colocar, o ure, que significa surgir, nascer e za que significa ação. Então natureza é aquilo que nasce da mente em ação, porém, tem a mente do criador, portanto o Deus em sentido laico.

Partindo desses conceitos, podemos concluir que o ser humano funciona se respeita as leis que a própria natureza colocou. Então quando o homem decide segundo o critério de sua natureza, vive uma existência de alegria e de saúde, tem o devir e a realização segundo os seus projetos originários. Se ao invés disso ele decide o oposto, acontece uma profunda tristeza, a regressão, a dor, até mesmo a doença ou a morte.

O Homem e a Existência

Então vamos ver um pouco mais de perto como acontece a evolução do homem. Existe a evolução do corpo físico que é automático, se nasce, cresce, amadurece e depois se vai embora da vida. Existe também uma evolução psíquica, que não tem o mesmo automatismo. Um homem de 50 anos pode ser evoluído psicologicamente como uma criança de 7 anos. Isso ocorre porque o crescimento psíquico depende da conformidade das escolhas de natureza.

A vida é contínua-dinâmica se escolho bem e evoluo, de modo contrário, ando para trás, vou em regressão. 

Agora, como o homem faz para decidir sua ação no contínuo existencial? Ele faz por meio do processo de percepção, pelo objeto externo, percepção exteroceptiva e do próprio organismo, o interno, o projeto, essa é a percepção proprioceptiva. Depois por meio das células especulares do cérebro que se torna consciência, essa é a percepção egoceptiva.

Enquanto as duas primeiras duas fases que mencionei ocorrem naturalmente, segundo a norma de natureza, a terceira fase, egoceptiva, não ocorre. Existe o Monitor de Deflexão na consciência do homem. Ele deflete as imagens do real promovendo um falso de consciência, um falso de percepção. Então o que o ser humano percebe na fase egoceptiva não é garantia do real justamente devido a presença do Monitor de Deflexão. Portanto esse é o primeiro passo pelo qual se vê que o Homem não é capaz de saber a sua natureza.

Evolução da Consciência

Gostaria de mostrar através de uma simples passagem como acontece a evolução da nossa consciência. Uma figura muito simples que mostra a evolução da consciência segundo a psicodinâmica Freudiana.

Esse círculo é a representação gráfica de uma criança quando nasce. O Es é o Id representa a energia inconsciente da criança. Essa criança se move, mexe as mãos, os pés, ri, mas não é ainda a sua consciência que faz isso. É tudo ainda inconsciente. Vamos ver o que acontece depois.

Sucessivamente a criança começa a entender que para comer, ela precisa do seio materno. Então, uma parte de energia inconsciente, do Id se torna o Eu Lógico-histórico. O pequeno eu consciente da criança faz a mediação entre o interno e o externo. Vamos ver como é esse processo. Nasce do inconsciente do organismo uma pulsão, um instinto. Nesse caso falamos da fome.

O Eu lógico-histórico indica o que se deve fazer para satisfazer a fome. Quando satisfaz, alcança um equilíbrio. Freud chama de Equilíbrio Homeostático. Esse processo pode se repetir infinitamente. A partir de um desequilíbrio existe uma pulsão, que quando é satisfeita se chega ao equilíbrio. Após esse processo, o que vem? Vamos ver a terceira fase.

Esse terceiro desenho ilustra o que acontece toda vez que existe o equilíbrio da homeostático. Então, toda vez que se faz uma escolha, se toma uma decisão, o Eu consciente expande a sua consciência. Subtrai a energia inconsciente, se torna cada vez maior. Portanto aumenta a consciência.

O ser humano sábio é aquele que conseguiu transformar toda energia inconsciente do Id em Eu consciente, então o Eu é 100% consciente, se conhece completamente. Infelizmente não são muitos os seres humanos sábios, são muito raros.

Se formos ler os livros que falam da dimensão do Ser, a dimensão mais elevada do homem, se fala de uma proporção das pessoas que chegam nessa realização de 3 para cada 1.000, então são muito poucos ainda. Então, vamos deixar o ser humano sábio de lado e vamos falar sobre o ser humano mediano, que é aquele que a gente encontra mais comumente no nosso caminho.

Quanto que se evolui a consciência de um ser humano mediano? Freud trazia o exemplo do iceberg. Uma montanha de gelo que mantém somente uma parte pequena fora d’água, toda a outra maior parte que permite o movimento do iceberg, é a parte mais importante, está embaixo da água, não se vê. Então ele compara a parte externa com a consciência e a parte submersa o inconsciente. Validando em termos práticos da quantidade de energia da parte inconsciente, em uma vida inteira o ser humano poderia ter consciente somente 5 até 20% da energia, uma parte muito pequena.

É muito difícil chegar a gerir uma vida inteira conhecendo essa parte tão pequena de si. Portanto, vimos duas coisas, uma que a consciência é muito pequena e outra é que a consciência é muito pequena diante da totalidade existencial. As pessoas que têm uma consciência total são muito poucas, como já vimos, são sábias. 

Por que a consciência não conhece o real ?

A consciência é alterada pela ação do Monitor de Deflexão, mas existem também outros fatores que conduzem a uma errada percepção do real.

Complexo – o eu complexual é um eu fictício, se vê, se enxerga no Eu lógico-histórico. É inconsciente ao Eu lógico-histórico porque age em antecipação à ele. Significa que antes de tomarmos uma decisão, o Eu complexual age antes, sem que o Eu lógico histórico se dê conta disso.

Estereótipos – são as estruturas psicológicas fixas que usamos, sem verificar a realidade. Eles nos levam a erros de comportamento. Nós simplesmente não verificamos. O ser humano não age como os animais, que verificam em cada situação o que deve ser feito. Por exemplo, quando um cachorro precisa ser alimentado, mesmo que seja o dono dele que o alimente, ele sempre verifica se a comida serve ou não. Então os estereótipos nos levam, naturalmente, a errar.

Memes – O gene é um elemento de natureza que reforça o Em si ôntico, já o Meme se apoia sobre um gene e não tem os efeitos naturais no organismo. O meme se confunde com o real, mas não é real. Vivemos em um mundo onde o social é todo memético.

Todos esses elementos estão justamente no nosso cérebro, nosso cérebro crânio. O cérebro, sendo manipulado por todos esses elementos citados, não é capaz de ler a realidade das coisas com transparência. Então vamos ver o que a Ontopsicologia propõe como solução.

O que é o critério organísmico e como ele ajuda a perceber a realidade?

A solução é justamente o critério organísmico de percepção da realidade. No nível do plexo solar do ser humano, existe uma membrana de tambor muito sensível, que divide os pulmões das vísceras. Assim como vibra essa membrana, assim se move a vida.

O diafragma está conectado a um número notável de células nervosas, as suas vibrações podem ser tocadas por ondas sonoras ou ondas fotônicas. Por baixo do diafragma se encontram as vísceras, são 32 metros de vísceras que tem uma quantidade superior de neurônios que a do cérebro.

Mais abaixo existe o aparato genital masculino ou feminino, todo esse aparato inteligente é o que a Ontopsicologia chama de Cérebro Viscerotônico ou Primeiro Cérebro. Este primeiro cérebro é aquele que quem utiliza, são as crianças que recém nascidas, porque elas não possuem uma estrutura egóica.

Na fecundação, o espermatozóide que fecunda o óvulo feminino, a sua cabeça, essa parte do espermatozóide se tornará depois o cérebro visceral. O cérebro visceral gerencia todas as outras funções do corpo humano. Portanto, mesmo no feto o cérebro visceral já está ativo.

O critério do Em Si ôntico

Agora vamos falar do que é o Em si ôntico. Aquilo que nos desenhos acima representamos como Id, conforme a concepção de Freud, em Ontopsicologia, Meneghetti chama de Em si ôntico.

O Em si ôntico é uma identidade muito profunda que vem do Se. Pode ser chamado de forma genérica da alma. Frequentemente o Professor Meneghetti utilizava essa terminologia alma. O que quero dizer é que existe uma identidade muito profunda que vem do Ser, vem do ôntico. O Em si ôntico é uma das três descobertas da Ontopsicologia, que é a essência do ser humano. É uma informação básica cósmica, porque tem uma capacidade eterna de linguagem, de existir e se comunicar.

O Em Si ôntico é um critério base de identidade do indivíduo, como pessoa e como relação. Ele é sempre uno, individuo e transcendente. Um princípio formal e inteligente que faz autóctise histórica. Me agrada também dizer que é o simples da vida, que a vida colocou para o ser humano. Porém, é necessário compreender o que se quer dizer quando se fala de simples. Isso porque ele consegue satisfazer um grande número de funções no ser humano e continua sendo simples. Se o Em si ôntico consegue satisfazer todas as funções do humano, ele é o simples do homem.

O Em si ôntico é um projeto de ação, é um conjunto de energia organizada com um escopo muito preciso. Devemos entender bem a sua terminologia porque ele nos dá uma regra para entender aquilo que faz bem para nós, em todos seus sentidos, de saúde, de relação, em tudo. Se a pessoa entende bem o conceito de Em si ôntico, ela possui um critério de exatidão da realidade, isto nos conduz à uma vida de contínua evolução.

Quando o Ser se faz em existência, a primeira fenomenologia do Em si ôntico é o cérebro viscerotônico, este é o aparato específico de percepção do real.

Relação Em Si ôntico e Eu a priori e cérebro viscerotônico

Nós já vimos que o Eu lógico-histórico na escolha de uma ação ele faz a mediação entre a exigência interna e a realidade externa. Contudo, o Eu lógico-histórico é um Eu fictício, construído basicamente em função dessas exigências externas ambientais mais próximas, isso é, a família.

Não é útil e funcional para a natureza do sujeito, porque não utiliza a evidência interna. Trata-se de um Eu constituído segundo o social, não segundo a sua natureza. Se localiza no interior do organismo dentro do cérebro que é a base da nossa racionalidade lógica e consciência. Quando se pensa em Eu lógico-histórico a referência imediata é a cabeça.

Para um ser humano verdadeiro, é necessário que exista um Eu que seja a resposta imediata do seu Em si ôntico. Porque o Em si ôntico é a própria resposta da natureza do ser humano. Esse Eu se chama Eu a priori. O Eu a priori é a resposta exata ao Em si ôntico, resposta desejada, evolutiva para ação do ser humano.

Se um sujeito age segundo o Em si ôntico, ele age segundo o Eu a priori e está sempre exato consigo mesmo. Exato porque é resposta a exigência do Em si ôntico, o Eu a priori.

Portanto, o Eu a priori é o critério de realidade para o ser humano. Quando nós falamos de intuição, de visão ôntica, nós estamos falando de fenomenologias do Eu a priori. Se a racionalidade tem o cérebro como referência, o Eu a priori tem como referência o cérebro visceral, como primeira fenomenologia do Em si ôntico.

O cérebro viscerotônico tem uma grande importância no interior do corpo humano, que regula todos os aparatos que consentem o funcionamento involuntário de um organismo, como por exemplo a circulação sanguínea, o batimento do coração, a respiração, a percepção, a emoção, tudo involuntário. 

Vamos ver então como funciona a percepção nesse primeiro cérebro, porque no cérebro do crânio, nós já sabemos como funciona. Ele age em antecipação, em alguns segundos, ao cérebro do crânio, porque o cérebro do crânio depende da percepção que demora um pouco. O cérebro visceral, o primeiro cérebro, age como unidade de ação, então, contemporaneidade com o impacto do acontecido.

Se um artista canta, meu cérebro viscerotônico canta com ele contemporaneamente, depois de alguns segundos é percebido pelo cérebro da cabeça. O critério organísmico resolve o problema crítico do conhecimento.

Como se faz para conseguir compreender a linguagem do cérebro viscerotônico?

O problema crítico do conhecimento coloca uma interrogação universal. O homem é capaz de conhecer o próprio real? A disputa filosófica no interior da Igreja entre Santo Agostinho e Bellagio, 350 d.c. se conclui com o reconhecimento da Igreja Católica com a tese de Santo Agostinho que sustentava a impossibilidade do homem conhecer a realidade sem a ajuda de Deus. Bellagio foi condenado porque afirmava que homem sozinho poderia conhecer o real da vida.

A tese da Ontopsicologia não só confirma essa tese como diz que o homem pode conhecer a natureza, o real. Portanto, o homem, ele é por natureza feito, já é predisposto por natureza a conhecer o real. 

Então nós vimos que o ponto fundamental para compreender a realidade do homem é o cérebro viscerotônico. Portanto, como se faz para conseguir compreender a linguagem desse cérebro viscerotônico?

O instrumento que a Ontopsicologia possui para compreender o próprio viscerotônico é o instrumento da Melolística, que significa melodia holística. Trata-se de uma música que individua o organismo na sua totalidade, no sentido holístico. Se a melolística é usada continuamente como um treino psico-corpóreo, ela vai permitir a percepção do Em si ôntico como fenomenologia do cérebro viscerotônico.

Nos últimos anos, eu sendo melolista, experimentei com pessoas e obtive resultados, resultados esse são as remoções dos bloqueios psicossomáticos, saúde, aumento de vitalidade bio-psíquica, funcionalidades, transcendências, inclusa a Peak Experience de Maslow. Que significa uma experiência de ponta, muito alta.

Nessa experiência o simples da vida, o Em si ôntico, se evidencia, anulando qualquer possível racionalidade e se expõe como ecstasy da vida, anulando qualquer racionalidade e promovendo uma constante atividade emotiva, dificilmente contido. Quem experimenta diz que se pode chorar de tanta alegria.

Esses são momentos em que o Em si ôntico e o Em si organísmico fala e anula qualquer coisa que pode ser racional, segundo a minha opinião, a racionalidade é um grande ditador do organismo, porque ele impõe ao organismo de se mover de certo modo, como um ditador. A racionalidade não compreende a parte transcendente da qual ele mesmo vem, mas quando a parte transcendente fala, a racionalidade não pode fazer outra coisa a não ser ficar em silêncio.

Para concluir, é importante fazer um processo que se chama Metanóia, uma transformação. Em vez de usar o segundo cérebro, ou seja, o cérebro cerebral, como ditador único de toda realidade, é preciso aprender a usar o primeiro cérebro, que é o visceral. Quando nós formos capazes de usar somente o primeiro cérebro, aí então seremos capazes de conhecer a nossa realidade, então aí, a vida será verdadeiramente nossa.