Apresentação desta aula feita pelo professor Erico Azevedo, que perguntou ao professor Marcello Bruognolo: “Qual a premissa desta aula?” O professor Marcello respondeu que, uma vez que tivemos aquela aula ultra precisa com a revisão do professor Antonio Meneghetti (aula 9 – A psicossomática), então a premissa de hoje é apresentar o conceito de Em Si ôntico da forma mais simples possível, para que a gente tenha um material didático e acessível a qualquer pessoa que se aproxime do tema (1’38”).
Professor Marcello inicia:
Porém será uma lição muito básica, prática, pés no chão para fazer entender o Em Si ôntico, eu vi que muita gente já é professor, já é estudioso de tempos neste tema, então ele pede licença a todas essas pessoas. Então eu farei basicamente com uma abordagem para aquelas pessoas que se aproximam do tema pela primeira vez, ou se não pela primeira vez àquelas que estão vem no início tentando entender todos esses conceitos da Ontopsicologia.
Portando o Em si ôntico é uma evidência, é uma evidência que toda a psicologia de 1800 (século XIX) em diante, investigava, procurava, mas não encontrava. Toda a psicologia clássica, toda a psicologia moderna não chegou a atingir uma experiência desta fortíssima evidência que o ser humano tem deste princípio. A psicologia existencial humanista se aproximou, mas ainda distante, deste Em Si ôntico que estou procurando descrever para vocês. Devo dizer que de fato não é fácil, porque para chegar a esta evidência (Em Si ôntico) precisa colocar à parte o nosso modo convencional de compreender, aquele modo lógico-racional, que geralmente usamos para se aproximar dos problemas, das questões. E, mesmo que fosse fácil atingir apenas com a racionalidade convencional, ainda assim nós não o atingiríamos de fato porque ele é um ponto invisível que continuamente se esconde e por fortuna ele se esconde. Por fortuna, mas rege todo o real, tudo aquilo que somos, toda a nossa existência é sustentada por este ponto. É um ponto que dá sustentação à nossa realidade, é um ponto da mente interior. Faço um exemplo banal: qual é a diferença entre duas pessoas? Uma dessas pessoas é realizada, é feliz, é uma pessoa que constrói o próprio destino. Uma pessoa que é construída num entourage de coisas boas, de boas amizades. É boa e funcional a si mesma. Viveu bem, tem tudo aquilo que lhe serve. E tem consciência de toda a sua realidade. Se conhece. Uma outra pessoa (aqui ele fala um outro homem) é um vagabundo, falido. Ele não vive mais, se deixa andar, é um falido ou então um doente. Não tem nada. Qual é a diferença? O que é que faz a diferença entre esses dois destinos? É o Em Si ôntico. Na primeira pessoa é ativo, na segunda pessoa é completamente desativado, morto.
O Em Si ôntico é um princípio de natureza, não é resiliente. Hoje está muito na moda esta palavra resiliente, isto é que você consegue reagir às coisas não tão boas que acontecem na sua vida (à desventura da vida – palavras do Marcello). É estúpido reagir às dificuldades da vida, porque primeiro você procurou essas dificuldades, e que diacho de conceito é esse que depois você resiste às dificuldades? A resiliência é uma bestialidade que extrapola a inteligência humana.
O Em Si ôntico abre a possibilidade de vida feliz, portanto mesmo que nós não possamos vê-lo racionalmente, nós podemos medir os seus efeitos, portanto a história, o destino que cada um de nós constrói para si próprio. Uma pessoa faz a si mesmo, é contente de fazer, de aprender. Segue seu próprio projeto, suas inclinações (vocações). O outro não, aquele que se deixa viver, o vagabundo, é uma espécie de covarde que abandona a vida, porém pretende que os outros o ajudem. Ou ele não se dá conta ou ele não quer tomar a responsabilidade sobre a própria vida. O outro, que fez todos os sacrifícios, assumiu toda a responsabilidade, com coerência ele realiza o seu próprio projeto. Portanto, o ponto de diferenciação entre esses dois personagens é o Em Si ôntico. Uma pessoa segue o Em Si ôntico. O outro não.
Eu irei explicar o Em Si ôntico partindo da definição que o professor Antoni Meneghetti deu: “Princípio formal inteligente que faz autoctise histórica”. Se é um princípio, é anterior, é antes (primeiro) de tudo, praticamente ele coloca as suas raízes para além da existência. Aqui é preciso fazer um pequeno parêntese: O que significa o Ser? Porque nós vivemos na existência, que é temporal, inicia e depois termina, porém todos nós fazemos parte de uma energia muito maior do que a da nossa existência. Somos individuações construídas a partir de uma energia que é cósmica, é uma unidade cósmica. Não podemos pensar a nossa existência dentro de “frascos” (da ótica) como é a família, o nosso país, a nossa língua. É preciso levantar um pouco a cabeça e olhar um horizonte um pouco mais amplo. E nesse horizonte observamos que há uma energia muito organizada no cosmo, muito formalizada em proporção. E a mesma energia que neste momento está construindo a galáxia de Andromeda, ou outra galáxia etc., constrói também a mim, neste momento. É um fato, é uma evidência também, não posso pensar que eu venho de um caso ou venho do macaco, ou venho de Deus. Também o conceito da religião é muito pequeno, se eu quero compreender a mim mesmo. Posso crer nessas coisas porque são belas, boas etc., mas se quero partir de uma evidência. A evidência é que a minha vida nasce e morre, faço parte dessa vida por um período, porém a vida em si é eterna, mas outro é “mim”, é antes de mim. Portanto devemos hipotetizar um antes de mim, um antes não absoluto, um antes energético. Porque eu nasço, vivo, faço tantas coisas, sofro, em alegro ou de satisfação ou de desilusão, pesquisa (sondaggi), amo, há uma traição, sou odiado, me irrito, tantas coisas, mas não posso pensar que isso seja tudo. Isso são partes, inclusive quando se olha do ponto de vista do ser humano, são partes. Nem mesmo o ser humano é feito todo ele dessas coisas. Tudo isso é um efeito histórico, existencial, mas não são causas. A causa é primária, é a energia cósmica que dentro do conhecimento humano se denominou de algumas formas e em Ontopsicologia se chama SER (ESSERE). E o SER para que possa ter este efeito histórico, existencial, deve intencionar a si mesmo, deve levar o pensamento em uma direção. É um primeiro momento de toda essa energia, é a intencionalidade. É uma só, não devemos imaginar que são tantas, é uma só, toda junta. Isso ocorre antes da existência, isto é a essência da causa da existência, é aquilo que vem antes da fenomenologia da existência (21’47’’). E podemos chamar como cosmos, como SER, como vocês quiserem, mas nós, seres humanos, somos extrapostos deste SER, somos construídos, somos causados pelo SER, por esta ordem. Somos filhos.
Este SER, para que haja a existência, inventou (criou) uma técnica. Por que? Porque ele não pode ter filho. O SER é SER ele já é (ele é sempre ser). Não pode ter filho, como faz para ter uma fenomenologia que se distinga dele, que é um. É sempre um e seria dois com um filho. O SER deve permanecer um. De outro modo não seria o SER. Porém ele pode tecnicamente inserir uma semente na construção do humano. Isto é já uma técnica. Portanto, nós como indivíduos e humanos temos dentro de nós uma semente que pertence ao SER, do cosmos, de todo o cosmos. Essa semente é o EM SI ôntico. É uma parte de toda essa energia que é perfeita em si, que nós temos como essência de nós mesmo, como princípio. Princípio formal. Formal porque este princípio, porque antes não tem nada, não tem vida, depois deste princípio há a minha vida, como indivíduo. E este princípio não é parado, não é rígido. É como uma semente, há uma forma sua, uma imagem sua, um desenho de si, um seu projeto. Princípio formal significa que é a essência primária, radical do ser humano que, porém, tem a sua possibilidade de projeto. Um projeto possível. E este princípio formal, com o seu projeto, pode ser levado à consciência, isto é, pode ser visto, visionado, ser lido dentro (interliggere). Dentro de onde? Dento de si mesmo, dentro do próprio projeto. Ele tem a capacidade de ler a si mesmo. É uma energia superior, como aquela do cosmo, que pode chegar a nós através de uma técnica, isto é, colocar a semente para chegamos à nossa energia, a pequena energia do ser humano, mas coligada com aquela maior. Se nós pensarmos um exemplo da linguagem, como uma parola, uma frase etc. Se devo falar alguma coisa, quando digo uma palavra, a palavra não se confunde comigo, porém eu também sou a palavra, mas ao mesmo tempo eu não sou. Eu me exponho, mas não sou aquela palavra, portanto o SER não se torna o homem, porque o SER permanece na sua perfeição de uno (único, todo). Porém causa o ser humano. É a essência que causa o ser humano, o princípio que causa o ser humano. Então para entender isso podemos usar o velho truque de pensar em eliminar de mim tudo aquilo que é supérfluo, para verificar esta essência. Então se eu troco tudo, nome, papel que eu tenho, se sou homem ou mulher, minha história, o corpo, são todas as coisas denominadas em filosofia “acidente”, então o que permanece em mim como essencial? Permanecem duas palavras EU SOU. Eu sou é a essência de mim. E não é uma opinião, é uma evidência. E não é existo, mas ainda anterior, eu sou vem primeiro, depois eu existo, depois penso, depois posso agir, posso fazer, porém como princípio tem EU SOU. Aquele EU SOU é o Em Si ôntico. Dali depois são os outros Em Si ônticos, é o fato que eu posso ver este Eu Sou, se eu chego à essência eu a vejo, também racionalmente. Depois desse EU Sou pode haver tudo aquilo que nós chamamos de existência e os correlatos dessa existência, as relações e tantas outras coisas.
E neste núcleo EU SOU já tem tudo “Princípio formal inteligente”. Porque EU SOU é aquilo me constitui como projeto de existência, virtual e potencial. Virtual porque é uma imagem, um desenho que me indica o que, qual projeto. Virtu move-se pela minha virtu, a virtu é um dote. Qual o dote? Potencial, porque eu tenho a força, possibilidade, de constituir-me história dessa virtualidade.
Então, é um invisível porque não é sensorial, não faz parte da objetividade dos sentidos, mas é causa de todos o ser humano. Se o indivíduo fosse fiel à visão do seu Em Si ôntico, para ele não haveria problemas, porque é natureza, é a natureza básica da qual somo feitos. O problema é criado pelo Eu. O Eu não é capaz de ver o Em Si ôntico, porque é condicionado de outras coisas e não consegue ver o que deve-se fazer naquele momento. Não vê qual é a primeira indicação do Em Si ôntico, por meio do Eu a Priori.
Este Em Si ôntico tem fim (finalidade/objetivo). Qual é a finalidade inseica? É a conservação do indivíduo e o seu crescimento. Eu não posso me conservar sem crescer e muito menos crescer sem me conservar, por isso os dois estão juntos: conservação e crescimento. E este projeto de natureza permite que eu me conserve e cresça no mesmo momento (contemporaneamente). Se o projeto não se atua temos que pagar um carma.
Erico pede ao Marcello que explique o sentido de Carma, trazer a compreensão laica. Ele disse que é muito simples: O carma é o pagamento de um erro cometido mesmo que inconscientemente. E não é um erro em sentido moral. É um erro contra a própria natureza do indivíduo, contra o próprio projeto. Só isto, é como um caso banal, o sujeito cai, machuca o pé e precisa pagar, isto é por uma semana precisa pagar a conta desse erro. Precisa ficar de cama ou botar o gesso. Não se chega ao Em Si ôntico com a lógica racional, mas sim por meio da intuição. O Em Si ôntico está presente em todos os efeitos históricos positivos do ser humano, inclusive na beleza de um ser humano, que não é aquilo que aparece e sim a beleza da mente, a ordem de natureza da mente. A beleza é a proporção da parte na unidade de sentido, é a mente. Quando o ser humano compreende algo a mais se diz que ele se ilumina. Buda teve uma iluminação, era um iluminado. Levou 40 anos, porém compreendeu. Compreendeu como estado de graça pessoal, como presença inseica, estado de graça. Qualquer um pode chegar a ao estado de graça (iluminação), ou seja, muitos de nós temos essa experiência.
Princípio formal inteligente. Inteligente porque primeiro é capaz de refletir a realidade, o real que se dá, que escorre (43’58’’). Portanto é capaz de formalizar na história o seu projeto. Ao mesmo tempo o Em Si ôntico é um critério. O EU SOU é o critério da minha existência, é a minha essência. Não é um critério convencionado, acordado (combinado) entre seres humanos, mas é um critério de natureza. Portanto, a sua evidência para todos, isto é, todos podem ter acesso a esta evidência, a esta inteligência. Este critério constitui cada um de nós. Constitui a nossa inteligência, constitui a nossa capacidade de escolher a melhor coisa para nós. É a aparição de mim mesmo, eu sou a hecceidade (em italiano ecceità significa: Eis me aqui), é como sou é a aparição de mim. Sou aqui, agora, assim.
É o primeiro real depois de uma série de situações existenciais muito realizadora, mas tudo isso parte do íntimo nós mesmos. É o ponto do humano que é muito, muito profundo. É critério e raiz a toda a lógica do nosso fazer. Portanto, é um critério empírico que se pode tocar com a mão. É evidente, é concreto, exatamente porque é hecceico: Eis me!
“Que faz autoctise histórica” é a segunda parte da definição – Princípio formal inteligente que faz autóctise histórica. Isto é, que permite a ação de construção do destino que me diz respeito. Destino de natureza, não o destino carmático. Portanto, é a minha história. E permite também o nascimento do eu verdadeiro. E não sempre aquele eu fictício que me faz ver outras coisas, outras situações.
Para concluir, apenas duas palavras sobre como se faz para chegar a esta consciência (do eu verdadeiro). Porque dizemos que é difícil, dissemos que não é tão simples assim de chegar, e também esta lição aqui é uma aproximação, ela não traz a cada um de vocês uma experiência. Para compreender precisa simplesmente melhorar a si mesmo, dia a dia, para compreender sempre mais, é preciso viver, fazer experiência, tudo aquilo que posso. É sermos ávidos de experiência, depois compreender e ir além, para fazer outras experiências, assim sucessivamente ao infinito. Até que morremos felizes. Tudo o que não é uma coisa concreta podemos fazer tudo para ter experiência do que compreender logicamente, este aspecto dinâmico, profundamente dinâmico da minha vida.
São tantas coisas a dizer, porém eu pararei aqui e se tiverem perguntas. Ele falou que tem bastante dificuldade de usar o método online. Prefere muito ter a pessoas por perto. Ele ficaria feliz com perguntas para melhorar a compreensão do tema.
Enquanto isso, uma especificação da palavra “Autoctise” – é a autoconstrução de mim mesmo e da realidade que vivo
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