Ontopsicologia

Psicoterapia

Grego ψυχή (psychḗ), que significa “mente”, “alma” ou “espírito”, termo comumente usado em palavras relacionadas à mente, psicologia e processos mentais.

Grego θεραπεία (therapeía), que significa “cuidado”, “cura” em sentido amplo, mas tipicamente em referência a entes queridos ou a algo considerado sagrado.

Origens históricas

Etimologicamente, “psicoterapia” significa “cuidado da alma”. Originalmente, os pais da cultura ocidental não entendiam qualquer referência a questões médicas ou psiquiátricas, mas sim uma referência de elevado valor moral e espiritual.

Nesse sentido, Meneghetti considera que o termo foi utilizado por Tucídides, Platão, Fedro, Homero, ou seja, por grandes pensadores da cultura clássica grega.

No que se refere à relação entre psicoterapia e medicina, Meneghetti considera que:

O uso do termo “terapia”, em sentido médico, é forçado, ou também, é  uma apropriação abusiva feita recentemente, há alguns séculos. O termo italiano mais correspondente é “cura” (cuidado), cuja acepção é clara. (…) Dizer então psicoterapia é confirmar de modo específico uma atitude de busca de cuidado e deferência em relação à alma. Ao contrário, o étimo de “cura” em sentido médico deriva da explícita compreensão grega de “ιατρεια”, de “ιατρευω” (MENEGHETTI, 2002, pp.81-82)

A psicoterapia em sentido contemporâneo

De forma concreta e contemporânea, existem inúmeras abordagens psicoterapêuticas, as quais, de forma geral, envolvem o diálogo entre um psicoterapeuta com formação específica e um cliente que possui um ou mais objetivos, tais como:

  • Melhorar a saúde mental
  • Resolver problemas emocionais
  • Modificar padrões de pensamento ou comportamentos
  • Promover o bem-estar psicológico geral.

A psicoterapia pode ser realizada de diversas maneiras, incluindo terapia cognitivo-comportamental, terapia psicodinâmica, psicanálise, ontopsicológica.

Ela também pode ser realizada em caráter individual ou em grupo, a depender da abordagem, e é frequentemente adaptada às necessidades de cada cliente.

Outro aspecto importante da psicoterapia é que, no Brasil, ela não possui regulamentação específica, não sendo necessário ser Psicólogo ou Médico para praticá-la profissionalmente.

Porém, é unânime nas diversas abordagens que aquele que se propõe como psicoterapeuta deve atender a determinados critérios tanto de conhecimento teórico, prático, quanto existenciais.

A Psicoterapia Ontopsicológica

Na Ontopsicologia, a psicoterapia é considerada uma prática voltada à autenticação e à promoção de uma realização plena do indivíduo, e não apenas ao tratamento de distúrbios e problemas.

Este processo procura identificar e traduzir em ações práticas a intencionalidade do Em Si ôntico do indivíduo conforme o critério da identidade utilitarístico-funcional, centrando-se no ser humano como um todo e na sua realização autêntica.

Modelo Psicoterapêutico

O modelo psicoterapêutico ontopsicológico baseia-se no princípio de que a atividade psíquica pode ser compreendida por meio da leitura das indicações do Em Si ôntico do indivíduo, o que se faz por meio de um conjunto de fenomenologias observáveis com instrumentos de diagnose próprios da Ontopsicologia, sendo a intervenção centrada na autenticação e na evolução integral da pessoa.

De fato, a psicoterapia ontopsicológica é a única abordagem radicalmente fundada na experiência concreta do campo dinâmico informacional que conecta tudo o que participa do mundo da vida, denominado nessa abordagem de “campo semântico” e, mais genericamente, em termos físicos, de “campo de informação”.

A psicoterapia ontopsicológica, portanto, é um processo orientado para promover a autenticidade da pessoa, focado em reconectar o Eu do indivíduo com seu Em Si ôntico, o que envolve o reconhecimento e fortalecimento da identidade profunda e autêntica do sujeito, auxiliando-o a expressar e seu potencial de inteligência.

Em Ontopsicologia, a psicoterapia exige que o técnico psicoterapeuta tenha uma compreensão profunda da dinâmica humana, em suas implicações existenciais e metafísicas. Não se trata apenas de tratar patologias, mas de facilitar uma reconexão fundamental do indivíduo com seu núcleo de identidade essencial.

Aspectos Metodológicos

Objeto

A psicoterapia, segundo a Ontopsicologia, tem por objeto a atividade psíquica.

Método

O método utilizado é bilógico, combinando a lógica racional, indutiva-dedutiva, com a lógica da intuição, fundamentada na leitura do campo semântico do Em Si ôntico do cliente:

Este conhecimento é o campo semântico: um conhecimento imediato, que procede por inteiro e por introspecção organísmica de uma ação formal ou gestáltica à outra: é autoevidente e subjetivo. Sucessivamente, é redutível ao estado reflexo ou, seja, é documentável de modo objetivo em sentido racional ou científico. 

Instrumento

O principal instrumento da psicoterapia ontopsicológica é o diálogo, que permite a exposição e análise da realidade psíquica do indivíduo. O conjunto de instrumentos de diagnose inclui:

  1. Análise do sintoma ou problema
  2. Biografia histórica e anamnese linguística.
  3. Análise fisionômica, cinésica e proxêmica.
  4. Análise onírica: sonhos, fantasias, imagogias etc.
  5. Campo semântico
  6. Resultados

A análise onírica (interpretação dos sonhos) é um dos principais instrumentos e contribuições da Ontopsicologia, vez que se utiliza de princípios e

Critério

O critério de toda a Ontopsicologia é o Em Si ôntico do cliente, que guia a intervenção terapêutica.

Fim

Vai além de simplesmente curar sintomas; o objetivo é a autenticação da pessoa, reorientando sua lógica de vida para alinhar-se com sua verdade ontológica.

De modo sintético, a autenticação pode ser definida como a reintegração da consciência do natural original do cliente, enquanto os efeitos terapêuticos somáticos e psicológicos são considerados secundários, resultantes de mudanças no campo decisional.

A psicoterapia ontopsicológica portanto, produz resultados quando se dá a metanóia, uma transformação profunda dos modos de pensar para que se fundem não mais em padrões e estereótipos supostamente “garantidos” pela sociedade, mas sim nas indicações sempre novas e atuais do próprio Em Si ôntico, que projeta momento a momento aquilo que é útil e funcional para o sujeito.

Este enfoque distingue fundamentalmente a Ontopsicologia de outras práticas psicoterapêuticas, visando a uma transformação que restaure a integralidade e a autenticidade do ser.

Conclusão

O “cuidado da alma”, ou psicoterapia, exige uma compreensão psicológica – os processos lógicos da mente – e uma compreensão ôntica – os processos lógicos da mente se motivam e estruturam como uma fenomenologia do ser.

A psicoterapia se ocasiona como “arte clínica”, no sentido que é terapia do ser no homem, ou seja, “Ontopsicologia”, a qual se volta, portanto, ao nível do homem como pessoa. Em tudo isso, para o fundador da escola ontopsicológica, é fundamental o conceito da liberdade:

O homem, enquanto pessoa, é um valor talmente delicado e imenso que se determina livre de qualquer outra individuação: a liberdade “morre” – portanto, morre tudo aquilo de que ela é fenômeno – se se intervém segundo qualquer critério externo. (…) A estes requisitos, responde a figura do psicoterapeuta que, além de ser conhecedor do invisível subjetivo, conhece a interioridade livre do cliente. [Portanto], fazer psicoterapia significa deixar-se discutir por um processo de autenticação à funcionalidade egóica (MENEGHETTI, 2002, p.87)

Nesse sentido, psicoterapia é sinônimo de “ontoterapia” = cuidado do ser, e a Ontopsicologia é o estudo do ser na psique humana.

Mais propriamente, a psicoterapia é a arte ou ciência que busca a intencionalidade psíquica enquanto constituinte da funcionalidade antropológica e da autorrealização (MENEGHETTI, 2002, p.87).

O escopo substancial da psicoterapia de autenticação é: (a) identificar a identidade original e presente do Em Si ôntico; e (b) operar a metanóia para reorganizar  comportamentos do Eu em funcionalidade histórica do Em Si ôntico.

Ver também

Aulas de Ontopsicologia

Referências

  1. AZEVEDO, Erico, O método ontopsicológico na clínica psicológica contemporânea, Tese de Doutorado em Psicologia Clínica, PUC/SP, São Paulo, 2017.
  2. MENEGHETTI, Antonio. Dizionario di Ontopsicologia. Roma: Psicologica Editrice, 2001. ISBN 88-86766-75-0
  3. MENEGHETTI, Antonio, Manuale di Ontopsicologia, Roma: Psicologica Editrice, 2008. ISBN 88-89391-35-9
  4. ROMIZI, Renato. Greco antico. Vocabolario Greco Italiano Etimologico e Ragionato. Bologna: Zanichelli, 2006. ISBN 88-08-08915-0

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