Ontopsicologia

Percepção

Etimologia

Latim percepire deriva de per = totalmente, e capere = pegar, agarrar, com o sufixo “-tionem” indicando ação. Literalmente, significa “pegar, agarrar completamente”.

Embora a palavra “percepção” não tenha uma origem direta no grego antigo, é interessante notar que o termo grego αισθησις (aisthesis) se refere à sensação ou percepção sensorial.

Significado

Em Fenomenologia Husserl utiliza o termo “atitude” para indicar um ato com perspectiva. A perspectiva ou “atitude” pode ser natural, personalista, transcendental etc., e cada atitude implica uma forma distinta de valorar a realidade.

Ao abordar o problema da percepção, Meneghetti sugere, assim como Husserl, que ela é uma atitude por meio da recebemos a realidade, interna e externa, atribuindo-lhe valor.

Isso sugere que a percepção envolve não apenas a recepção passiva de estímulos sensoriais, mas também a atribuição de significado a esses estímulos.

Ademais, em Ontopsicologia fala-se de uma dupla percepção, aquela nativa, própria do organismo, denominada “percepção organístmica”, e aquela simbólica, que trata da camada de sentidos atribuídos por convenção, elementos que estão além dos estímulos sensoriais e variações organísmicas diretas, os quais são as apreensões diretas dos fenômenos.

A percepção também envolve, portanto, em um momento posterior, a interpretação e a contextualização simbólica do quanto percebido, estabelecendo aquilo que Edmund Husserl observou e denominou de “hábitos simbólicos”, motivo pelo qual o ser humano gradualmente deixaria de verificar na origem os fenômenos mesmos.

Dessa forma, a percepção, em um momento posterior, passa a lidar muito mais com os próprios “hábitos simbólicos” do que com os “fenômenos em si”, estabelecendo uma espécie de camada de abstração que gradualmente oculta a intuição pura.

É senso comum considerar que a percepção se refere à capacidade de captar e interpretar informações sensoriais e cognitivas do ambiente ao nosso redor. A percepção envolve a organização e interpretação dos estímulos sensoriais, como visão, audição, tato, olfato e paladar, bem como a integração dessas informações com as experiências passadas, crenças e expectativas do indivíduo.

O que se constitui em um avanço para a investigação do tema proposto pela Ontopsicologia, é a ideia de uma percepção organísmica, que inclui não apenas os sentidos externos, mas também os sentidos internos, bem como uma via compreensiva do porque perdemos a percepção organísmica, o que será tratado a seguir.

Os três níveis de percepção

No Manual de Ontopsicologia, Meneghetti retoma conceitos elaborados por Charles Scott Sherrington em seu clássico The Integrative Action of the Nervous System (A ação integrativa do sistema nervoso), de 1906.

Nessa obra, Sherrington Sherrington apresenta um percurso neurofisiológico para a percepção, que inicia em um nível elementar e setorial, com a percepção esteroceptiva, passando para um nível orgânico mais profundo, onde todo o organismo é informado, a propriocepção, ao que Meneghetti acrescenta um último nível, que denomina de “percepção egoceptiva”, e que se dá posteriormente à integração das informações na formação reticular.

A formação reticular tem a seguinte função:

Formação reticular é uma parte do tronco cerebral (ou tronco encefálico) que está envolvida em ações como os ciclos de sono, o despertar e a filtragem de estímulos sensoriais, para distinguir os estímulos relevantes dos estímulos irrelevantes. A sua principal função é ativar o córtex cerebral.

Meneghetti sugere que a egocepção ideal, seria capaz de refletir tudo aquilo que vivemos nos dois primeiros nívels – esteroceptivo e proprioceptivo – porém, muito mais que uma mera seleção do que é mais relevante, de fato sofremos uma alteração dos dados primários.

Por exemplo, sentindo medo de algo que na verdade indicaria uma situação de vantagem e que, portanto, nos atrai, ou ainda podemos simplesmente eliminar algo fundamental para nossa vida pelo fato que aquela informação está ligada a algum aspecto traumático, doloroso ou removido do âmbito da consciência.

Essa alteração dos dados da percepção elementar se dá, na visão ontopsicológica, pela interferência do monitor de deflexão, também denominado “grelha de despolarização”, uma vez que esse mecanismo é capaz de alterar a polarização no nível subatômico, inerente ao campo de informação original (campos semânticos).

A simples inversão da polarização do campo semântico original já seria capaz de gerar efeitos como dúvida, medo, angústia, pois a consciência do Eu perde o contato com a informação reversível percebida nos primeiros dois níveis.

Sentidos específicos

  • Científico: na ciência, a percepção é estudada em várias disciplinas, como psicologia, neurociência e ciências cognitivas. Ela envolve processos complexos de recepção, interpretação e atribuição de significado aos estímulos sensoriais.
  • Filosófico: filosoficamente, a percepção está ligada a questões epistemológicas, como a natureza do conhecimento e como ele é adquirido. Filósofos como Descartes, Locke, Kant e Husserl discutiram profundamente a natureza da percepção e sua relação com a realidade objetiva.
  • Psicológico: na psicologia, a percepção desempenha um papel fundamental no estudo da cognição e da consciência. Teorias como a Gestalt e a teoria da constância perceptual exploram como percebemos e organizamos o mundo ao nosso redor.

Referências

  1. MENEGHETTI, Antonio. Dizionario di Ontopsicologia. Roma: Psicologica Editrice, 2001. ISBN 88-86766-75-0
  2. MENEGHETTI, Antonio, Manuale di Ontopsicologia, Roma: Psicologica Editrice, 2008. ISBN 88-89391-35-9
  3. MABILIA, Valentina, MASTANDREA, Paolo, il Primo latino. Bologna: Zanichelli, 2015. ISBN 88-08337-15-4
  4. ROMIZI, Renato. Greco antico. Vocabolario Greco Italiano Etimologico e Ragionato. Bologna: Zanichelli, 2006. ISBN 88-08-08915-0
  5. BONOMI, Francesco. Vocabolario Etimologico, disponível em <etimo.it>
  6. SHERRINGTON, Charles Scott. The integrative action of the nervous system, 1906. Alpha Edition (2020), ISBN 93-54179-02-9

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