Ontopsicologia

Inconsciente

Etimologia

A palavra “inconsciente” deriva do Latim inconscius, que significa “não consciente” ou “sem conhecimento”.

O termo é composto pelo prefixo “in-“, que indica negação, e “conscius“, derivado de “conscire“, que significa “ter conhecimento” ou “estar ciente”.

Significado

Apresentamos a seguir de modo suscinto a visão de inconsciente segundo a Psicanálise de Sigmund Freud, a Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, e a visão da Ontopsicologia, de Antonio Meneghetti.

Psicanálise

Segundo Sigmund Freud, o inconsciente é uma parte da mente que contém desejos, impulsos, memórias e pensamentos reprimidos, dos quais o indivíduo não tem consciência. Esses conteúdos podem influenciar o comportamento e os processos mentais de maneira inconsciente, muitas vezes resultando em sintomas psicológicos.

Sigmund Freud desenvolveu uma teoria que dividia a mente humana em três estruturas distintas: o id, o ego e o superego. Essas estruturas compõem o aparelho psíquico de acordo com a teoria freudiana e desempenham papéis fundamentais no funcionamento da psique humana.

De maneira sintética, as três estruturas podem ser assim descritas:

  1. Id é a parte mais primitiva e instintiva da mente, composta por impulsos biológicos e desejos irracionais. Opera de acordo com o princípio do prazer, buscando gratificação imediata e evitando o desconforto ou a dor. O id é completamente inconsciente e não tem noção de realidade ou moralidade. Representa os instintos básicos de sobrevivência e reprodução.
  2. Ego é a parte da mente que lida com a realidade externa e busca equilibrar as demandas do id, do superego e do mundo exterior. Age de acordo com o princípio da realidade, tentando encontrar maneiras realistas de satisfazer os desejos do id sem causar danos ou violar normas sociais. O ego opera principalmente no nível consciente, mas também inclui aspectos do inconsciente.
  3. O superego representa os valores morais introjetados e as normas sociais que aprendemos ao longo da vida, principalmente por meio da socialização e da educação. Funciona como uma consciência ou “tribunal” interno, avaliando e julgando o comportamento do ego em relação a esses padrões. O superego é composto pelo ego ideal, que representa os ideais aspiracionais, e pela consciência moral, que reprime e censura comportamentos considerados socialmente perigosos ou inaceitáveis.

Essas três estruturas do aparelho psíquico interagem entre si e influenciam o comportamento humano de maneiras complexas. De acordo com Freud, conflitos entre o id, o ego e o superego podem levar a distúrbios psicológicos e sintomas, da neurose à psicose.

A psicanálise e o método terapêutico desenvolvido por Freud visam explorar e resolver esses conflitos inconscientes para promover a saúde mental e o bem-estar do indivíduo.

Especificamente nas obras Ontopsicologia Clinica e Prontuario Onírico Meneghetti esclarece os pontos de conexão e as distinções da sua visão acerca do proceder na clínica e no entendimento dos sonhos em relação à Psicanálise de Freud.

Psicologia Analítica

Carl Gustav Jung expandiu a concepção de inconsciente de Freud para incluir não apenas conteúdos reprimidos, mas também aspectos positivos e criativos da psique. Ele dividiu o inconsciente em duas partes: o inconsciente pessoal, que contém material reprimido e experiências individuais, e o inconsciente coletivo, que é compartilhado por toda a humanidade e contém arquétipos e padrões universais.

A Psicologia Analítica, desenvolvida por Carl Gustav Jung, também descreve uma estrutura da psique humana, embora diferindo da teoria freudiana. Jung propôs a existência de três partes principais da psique:

  1. Ego: Assim como em Freud, o ego em Jung é a parte da psique que está consciente e lida com a realidade externa. No entanto, Jung enfatizou mais a importância do ego como um centro de consciência e identidade pessoal. Ele viu o ego como o ponto de contato entre a psique consciente e o inconsciente mais amplo.
  2. Persona: A persona é uma máscara social ou papel que assumimos na vida cotidiana para nos adaptarmos e nos relacionarmos com os outros. É a imagem que apresentamos ao mundo e muitas vezes reflete as expectativas da sociedade sobre nós. Jung via a persona como uma construção necessária, mas também alertava para o perigo de identificação excessiva com ela, o que poderia levar à alienação do verdadeiro eu.
  3. Sombra: A sombra representa os aspectos inconscientes e reprimidos da psique, incluindo conteúdos que são considerados inaceitáveis, indesejados ou desconfortáveis para a consciência. Esses conteúdos podem incluir impulsos negativos, traumas não resolvidos, instintos animais e características não desenvolvidas ou subdesenvolvidas. Jung via a integração da sombra como um aspecto crucial do processo de individuação e crescimento pessoal.

Além dessas partes principais da psique, Jung também postulou a existência do inconsciente coletivo, um nível mais profundo e universal da psique que contém padrões de pensamento, sentimentos e imagens arquetípicas compartilhadas pela humanidade. Ele argumentou que os arquétipos presentes no inconsciente coletivo influenciam profundamente o comportamento humano, mas também os sonhos, as crenças culturais e as expressões criativas.

Assim como Freud, Jung acreditava que a compreensão dos aspectos inconscientes da psique era essencial para a saúde mental e o desenvolvimento pessoal. Sua abordagem terapêutica, conhecida como análise junguiana ou psicoterapia analítica, visa explorar e integrar os conteúdos inconscientes para promover a individuação e a totalidade psicológica.

Ontopsicologia

Na Ontopsicologia, o inconsciente é entendido como uma zona de atividade quântica existencial ativa, que não é diretamente acessível à consciência do Eu. Ele representa a totalidade das informações contínuas provenientes do ambiente e influencia o comportamento humano de maneiras complexas e profundas.

Através da psicoterapia de autenticação e outros instrumentos de intervenção, como o Residence, a Melolística, a Cinelogia e a Imagogia, a Ontopsicologia auxilia o indivíduo a conscientizar e compreender o próprio inconsciente. Ao integrar as zonas removidas dos complexos como energia disponível ao Eu. o sujeito adquire novos “exércitos” à disposição para investimento evolutivo, permitindo uma realização mais plena e autêntica do ser humano.

Para Meneghetti, o inconsciente é definido como:

O quântico de vida e de inteligência por meio do qual nós existimos, mas não conhecemos, isto é, do qual não temos qualquer reflexão consciente; é uma parte da vida e da inteligência do homem; uma parte divina, contemporaneamente espiritual e animal, anjo e monstro. O inconsciente é intuição, percepção extrasensorial, espiritual, lógica intelectiva; é o quântico de vida psíquica e somática que o indivíduo é, mas do qual não é consciente e que age de qualquer modo, para além da lógica da consciência.

Talvez a constatação mais importante da pesquisa ontopsicológica em relação ao inconsceinte, é o fato de que a sua essência corresponde ao Em Si do homem, o que implica dizer que o inconsciente não seria “monstros e caos”, mas ao contrário, representa a ordem perfeita da vida no ser humano.

O inconsciente se torna monstruoso na fenomenologia em função das adaptações e perversões sofridas pelos instintos em situação sócio-ambiental, portanto, é uma situação que se estabelece historicamente, mas não faz parte da nossa natureza viver a própria vida intuitiva e instintiva como inconsciente. Ao contrário, seria da nossa natureza ter acesso tranquilo e natural ao conjunto global das informações contínuas provenientes do ambiente que nos dizem respeito.

Essas diferentes perspectivas nos ajudam a compreender a complexidade e a importância do inconsciente no estudo da mente e do comportamento humano.

Referências

  1. MENEGHETTI, Antonio. Dizionario di Ontopsicologia. Roma: Psicologica Editrice, 2001. ISBN 88-86766-75-0
  2. MENEGHETTI, Antonio, Manuale di Ontopsicologia, Roma: Psicologica Editrice, 2008. ISBN 88-89391-35-9
  3. BONOMI, Francesco. Vocabolario Etimologico, disponível em <etimo.it>
  4. FREUD, Sigmund. A Interpretação dos Sonhos (1900), A Psicopatologia da Vida Cotidiana (1901), Além do Princípio do Prazer (1920).
  5. JUNG, Carl Gustav Memórias, Sonhos, Reflexões (1961), Arquétipos e o Inconsciente Coletivo (1959), O Homem e seus Símbolos (1964).
  6. GAY, Peter. Freud: Uma Vida para o Nosso Tempo (1975).
  7. BAIR, Deirdre. Jung: Uma Biografia (2003)
  8. BORCH-JACOBSEN, Mikkel & e SHAMDASANI, Sonu. Freud e Além de Freud: Uma História da Psicanálise na Europa e na América (1993).

Voltar para Guia da Ontopsicologia