Ontopsicologia

Hecceidade (it. ecceità)

Etimologia

Latim haecceitas, que corresponde à tradução literal da expressão em Grego τὸ τί ἐστι = o que (este ser) é, expressão utilizada por Aristóteles na Metafísica. A palavra pode ser também decomposta nas seguintes partes constituintes:

  1. Latim ecce = “eis” ou “eis aqui”. É frequentemente utilizada para chamar a atenção para algo que está presente ou sendo mostrado.
  2. Grego τὸ = artigo definido “o, a” utilizado para especificar um ente específico.
  3. Grego τί = “o que”, “qual”, “que coisa” ou “por que”, dependendo do contexto em que é usada. É um pronome interrogativo usado para fazer perguntas sobre objetos, pessoas, qualidades, ações ou motivos.
  4. Grego ἐστι = “é (ser)”, usado para indicar a existência de algo ou para atribuir uma característica a um sujeito ou objeto.

Significado

Filosofia Escolástica

Hecceidade é um termo da filosofia escolástica medieval, inicialmente concebido por Duns Scotus, denominado Doctor Subtilis, para denotar as qualidades, propriedades ou características discretas de uma coisa que a torna aquela coisa particular. O conceito de Hecceidade define o ente individual, é o conceito de existir, ou seja, do ser aqui, agora e assim.

Ontopsicologia

Em seu Dizionario di Ontopsicologia, Meneghetti descreve suscintamente o significado que pretende ao usar o termo hecceidade, em italiano ecceità, conforme segue:

Ser exclusivamente aqui. Configuração a um particular presente em ato que especifica uma referência comum. Acontecimento individuado de um genérico. Conceito ou experiência máxima de presença identificada. Identidade em lugar distinto e específico. [tradução livre]

Porém, é no Manual de Ontopsicologia que o sentido específico e a importância do termo para a Ontopsicologia ficam evidentes. O trecho abaixo, de tradução livre, relaciona e distingue o termo hecceidade da noção, completamente nova, de Em Si ôntico:

O primeiro a cunhar o termo hecceidade foi Duns Scotus, mas eu não uso essa palavra na mesma acepção. Com hecceidade, Duns Scotus entendia o modo de presença da alma, onde o espírito divino se tomava presença, portanto, a última individuação. Para ele, hecceidade e individuação eram a mesma coisa. Por isso, na linguagem teológico-filosófica, a última ressonância de Deus estaria no indivíduo, na sua singularidade indivisa e distinta. Ao invés disso, quando uso o termo hecceidade, pretendo abrir o ser. Não é contraditório com o quanto dito por Scotus, mas é uma continuação, um reforço. Com o conceito de hecceidade quero romper o sujeito e o objeto. Faço o sujeito dentro do objeto, o romper-se do objeto e do sujeito. Praticamente, hecceidade é a superação tanto do objeto quanto do sujeito. Enquanto colocamos o sujeito, devemos sempre entender uma relação; o mesmo vale para o objeto. […] O conceito de hecceidade de Duns Scotus estava mais ligado ao indivíduo, enquanto o meu é uma exasperada introspecção ao conceito de real, ou seja, sou mais ontológico, enquanto Scotus é mais psicológico. Hecceidade é, portanto, algo que se é por evidência. Procede do ser: o real se abre e se certifica sem mediação. Autojustifica-se por autoposição, ou seja, a verdade é autóctise, quando é por autoevidência. Esse é o princípio da Ciência Ontopsicológica: o real evidencia-se pela autóctise do indivíduo operador de realidade, não há princípio mais real do que o seu ser-aí. […] Não existe o indivíduo aqui e o real lá: ele é real e pode falar realidade até onde o real lhe é relativo. Onde não é assim, não existe, não há, visto que ele não o experimenta.

O Em Si ôntico especifica a presença do ser aqui, agora e assim, portanto, abrange a noção de hecceidade.

Referências

  1. ARISTOTELE, Metafísica, 1030a.
  2. MENEGHETTI, Antonio. Dizionario di Ontopsicologia. Roma: Psicologica Editrice, 2001. ISBN 88-86766-75-0
  3. MENEGHETTI, Antonio, Manuale di Ontopsicologia, Roma: Psicologica Editrice, 2008. ISBN 88-89391-35-9
  4. ROMIZI, Renato. Greco antico. Vocabolario Greco Italiano Etimologico e Ragionato. Bologna: Zanichelli, 2006. ISBN 88-08-08915-0
  5. MABILIA, Valentina, MASTANDREA, Paolo, il Primo latino. Bologna: Zanichelli, 2015. ISBN 88-08337-15-4
  6. BONOMI, Francesco. Vocabolario Etimologico, disponível em <etimo.it>

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