Ontopsicologia

Intuição

Etimologia

Latim intus actionis = o dentro (ou íntimo) da ação.

Latim in tuitus, onde in = “dentro”, tuitus = “olhar”. Ver dentro, atentamente, especialmente com o olhar da mente.

Significado

A intuição é o conhecimento imediato – sem a mediação da racionalidade – de uma ação ou real.

Enquanto a racionalidade procede dividindo o ser para conhecer as suas partes, a intuição colhe uma gestalt, uma totalidade de ação em unidade com o sujeito cognoscente.

Como a intuição funciona?

A intuição revela a conexão a priori que se dá do íntimo do sujeito cognoscente ao íntimo do objeto ou real conhecido, em antecipação aos efeitos e, portanto, implica conhecer os modos ou estruturas interiores, as causas e as motivações de um projeto de ação, enquanto está se fazendo.

De modo prático, também podemos dizer que a intuição implica a visão imediata de uma solução, revelando as conexões e as de uma dinâmica em ato, seja um problema ou uma oportunidade.

O fato que a intuição tem a capacidade de saber antes dos efeitos, ou seja, tem a compreensão prévia de como os eventos irão se desdobrar, confere a ela por vezes um status de conhecimento infalível, mas também involuntário: poderoso e misterioso ao mesmo tempo.

A intuição em perspectiva científica

Em toda a história da humanidade a intuição teve grandes defensores, como cientistas e inventores, artistas e filósofos, empresários e investidores. Em sentido científico, não basta dizer o óbvio, é necessário especificar testes empíricos e dar a ela uma estrutura científica robusta.

Nesse sentido, recomenda-se consultar alguns artigos científicos e manuais de pesquisas e métodos de pesquisa sobre intuição para uma compreensão abrangente das muitas abordagens usadas atualmente pelos cientistas na investigação do tema, como o trabalho de Marta Sinclair na Austrália, e o trabalho de Erico Azevedo no Brasil.

Como pesquisar sobre intuição?

Um dos caminhos mais diretos para estudar a intuição é realizar pesquisas sobre tomada de decisões, porque decisões têm consequências, produzem resultados e esses resultados podem ser avaliados.

A dificuldade quando comparamos a pesquisa sobre intuição das demais pesquisas em tomada de decisão é distinguir, em meio à confusão mental do tomador de decisão, a intuição. 

A intuição na teoria da racionalidade limitada

A teoria da racionalidade limitada, de Daniel Kahneman, considera a intuição dentro de um quadro de sistemas de processamento, onde a intuição pode ser considerada uma forma de processamento mental rápida e inconsciente, baseada em experiências anteriores e conhecimentos acumulados, em contraposição à racionalidade, cujo processo é voluntário, consciente e lento.

Já na Ontopsicologia, a premissa é realizar um processo introspectivo, utilizando os seis instrumentos de análises, e compreender as variáveis inconscientes que podem influenciar na tomada de decisão, bem como colocar a intuição do Em Si ôntico em evidência.

À luz das descobertas da escola ontopsicológica, a intuição pode ser definida como a formalização do Eu a priori em relação a um projeto ou evento, implicando uma posição de ótima funcionalidade por parte do Em Si ôntico em relação ao projeto ou evento.

Ocorre que as pesquisas na linha da psicologia cognitivo comportamental, partem de uma visão restrita de intuição e, de fato, terminam por desqualificar a própria intuição, enquanto as pesquisas que se utilizam do paradigma ontopsicológico, mas também outras perspectivasa que consideram o inconsciente, chegam a conclusões contrárias.

Ambas, porém, concordam que a intuição é uma capacidade cognitiva inata, mas que pode ser desenvolvida e aprimorada ao longo da vida. Elas também concordam que a intuição pode ser influenciada por diversos fatores, como viéses de juízo, contexto social e cultural.

Intuição e processo perceptivo-cognitivo

Para compreender a relevância que a intuição assume para a escola ontopsicológica, é preciso compreender importantes conceitos que se referem aos níveis-base de percepção elementar, que são três: esteroceptivo, proprioceptivo e egoceptivo. (cfr. Charles Scott Sherrignton, prêmio Nöbel em Medicina, 1932)

Percepção esteroceptiva

A percepção esteroceptiva compreende qualquer variação excitante interna e externa ao organismo. Refere-se a todas as formas de sensibilidade:

  • Cutânea: tátil, térmica, dolorosa;
  • Orgânica: visão, audição, olfato e gosto; e
  • Visceral ou neurovegetativa, que implica todas as variações das funções vitais, viscerotônicas, neuromusculares em referência aos sistemas nervosos cérebro-espinal e neurovegetativos, e o sistema parasimpático.

Esse primeiro nível de percepção diz reseptio a qualquer estimulação externa ou interna na primeira fase de contato, ou seja, enquanto ainda é setorial.

Percepção proprioceptiva

A percepção proprioceptiva é qualquer estimulação sensorial que se torna informática única para o organismo. Nela, as múltiplas aferências internas ou internas são unificadas em relação à estrutura-base da individuação e veiculadas em uma percepção unitária do organismo. A percepção esteroceptiva é ainda setorial enquanto a percepção proprioceptiva envolve o total organismo, de modo que todos os setores do organismo são informados.

Percepção egoceptiva

O conhecimento egoceptivo é a percepção egóica, o quanto selecionado a partir dos dois níveis precedentes que é referido ao Eu consciente, voluntário e operativo. O quanto, o como e o qual da informação total atinge o Eu e, por consequência, o Eu é envolvido irrevocavelmente a uma responsabilidade.

Porque a intuição é perdida?

O Eu deveria ser a reverberação ou reflexão única do total perceptivo, ou seja, o conhecimento ou consciência do quanto se existe como individuação é um fato natural e normalmente adquirível, como o conhecimento da audição ou da visão.

De fato, a “consciência”, em Ontopsicologia, é definida como monitor de reflexão, ou seja, ela é uma superfície ou plano ótico sobre o qual se podem ler ou ver as projeções do real ou concreto em todos os seus aspectos. É um espelho por meio do qual os módulos da percepção se projetam holograficamente, instaurando o processo das imagens.

O cientista Antonio Meneghetti assim a descreveu porque a consciência dá a imagem correta:

[A consciência] é um espelho psicodélico onde as imagens coincidem com o vivido real. Essas imagens (ou reflexões) e objetos (ou estruturas relativas) são iguais e reversíveis.

Porém, a Ontopsicologia relevou que no interior do ser humano se sobrepõe uma projeção especular, que altera os processos do conhecimento organísmico: o monitor de deflexão, que foi assim chamado justamente porque distorce a imagem do real:

Quando chegam sinais, as percepções mais importantes, intervém sistematicamente um outro sinal que se sobrepõe. Susbstancialmente, ocorre que o feixe escpecular do monitor de deflexão torna-se prioritário na percepção reflexiva e a percepção organísmica resta excluída.

intuição do organismo foi substituída pela teoria linguística e o quanto extinto sobrevive de modo inconsciente. Ao contrário, a egoceptividade otimal seria uma compensação decisional e operativa em reflexão correspondente ao total orgânico ou organísmico.

Intuição e Eu a priori

Sintetizando o quanto dito até aqui, podemos definir intuição como segue:

A cada momento da vida de um homem há uma só ação otimal, e esta é refletida como Eu a priori, porque é justamente o projeto formalizado ou sublimado pela pulsão ôntica.

intuição, para a Ontopsicologia, é precisamente a visão desse projeto.

Aprofundamentos

Para um aprofundamento da teoria da tomada de decisão e da intuição, recomendam-se as seguintes leituras:

Ver também

Aulas de Ontopsicologia

Referências

  1. AVEVEDO, Erico. L’in sé ontico come criterio della scelta economica individuale, Monografia de Especialização em Ontopsicologia, 2006, Universidade Estatal de São Petersburgo, Rússia.
  2. AZEVEDO, Erico, MENDES, A. A investigação empírica do nexo ontológico no comportamento decisório humano como índice da necessidade de revisão do modelo da racionalidade limitada, II Brazilian Behavioral Economics and Finance Meeting, GVcef – Centro de Estudos em Finanças, São Paulo – SP, 18 e 19 de Agosto de 2015.
  3. AZEVEDO, Erico, BASSANI, M. Intuition Revisited: a high impact decision making empirical research, 4th Brazilian Behavioral Economics and Finance Meeting, GVcef – Centro de Estudos em Finanças, 16 e 17 de Agosto de 2017, São Paulo – SP.
  4. AZEVEDO, Erico, MENDES, A. Intuition Revisited: a high impact decision making empirical research, IFC 2016 – International Finance Conference, Viña del Mar, Chile, 2016.
  5. Livro Handbook of Intuition Research (Research Handbooks in Business and Management series), Marta Sinclair (org), Edward Elgar Publishing (2011), ISBN 18-48448-88-0
  6. Livro Handbook of Research Methods on Intuition (Handbooks of Research Methods in Management series), Marta Sinclair (org), Edward Elgar Publishing (2011), ISBN 17-82546-00-9
  7. MENEGHETTI, Antonio, Manuale di Ontopsicologia, Roma: Psicologica Editrice, 2008. ISBN 88-89391-35-9
  8. MENEGHETTI, Antonio. Il monitor di deflessione nella psiche umana. Roma: Psicologica Ed. ISBN 85-88381-20-6
  9. MENEGHETTI, Antonio. O Em Si do Homem. 5 ed. Recanto Maestro: Ontopsicologica Ed, 2004. ISBN 85-8838115-X
  10. MENEGHETTI, Antonio. Dizionario di Ontopsicologia. Roma: Psicologica Editrice, 2001. ISBN 88-86766-75-0
  11. SHERRINGTON, C.S. The integrative action of the nervous system (1906).
  12. MABILIA, Valentina, MASTANDREA, Paolo, il Primo latino. Bologna: Zanichelli, 2015. ISBN 88-08337-15-4
  13. ROMIZI, Renato. Greco antico. Vocabolario Greco Italiano Etimologico e Ragionato. Bologna: Zanichelli, 2006. ISBN 88-08-08915-0
  14. BONOMI, Francesco. Vocabolario Etimologico, disponível em <etimo.it>

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