Ontopsicologia

Campo semântico

Etimologia

A expressão “campo semântico” combina duas palavras: “campo”, do grego antigo καμπτω (kamptō), que significa “dobrar” ou “curvar”, e “semântico”, do grego σημα αν κτιζω = signo da ação aqui agora; o signo enquanto se constitui.

Definição

O campo semântico é uma das três descobertas da escola ontopsicológica, junto com o Em Si ôntico e o monitor de deflexão. Seu conceito não se confunde com a noção de “campo semântico” utilizada em linguística, sendo definido como:

  1. A comunicação-base que a vida usa no interior das próprias individuações.
  2. Um transdutor informático sem deslocamento de energia.

Por campo, Meneghetti entende

Um contexto hipotético, definido por três coordenadas: espaço, tempo e individuação (ou específica unidade de ação). É uma especificação de zona onde se dá uma interação entre duas ou mais pessoas. Este varia ao variar da relação. É um espaço hipotético convencional, que refere vetorialidades dinâmicas segundo centros força resultantes. Tantos são os modos das relações, tantos são os espaços hipotéticos de campo.

Semântico implica que faz signo, especifica a ação e se presencia. A energia no universo não se move ao acaso, mas sim segundo uma direção precisa. Semântico também implica virtualidade, ou seja, a capacidade de produzir efeitos segundo a informação da vetorialidade de quem intenciona. É um impulso que – enquanto se move – cria a forma que, depois, será sofrida como significado pelo receptor.

A descoberta do campo semântico

A pesquisa que levou o cientista Antonio Meneghetti à descoberta e descrição do campo semântico é um marco na ontopsicologia. Para compreender em detalhes essa história e os fundamentos da descoberta, é recomendado consultar a sua obra Campo Semântico, disponível em idioma português.

Para uma visão acerca da demonstração científica dos campos semânticos, recomendam-se as Teses de Doutorado de Erico Azevedo:

  1. Existe um Campo de Informação no Mundo da Vida? Abordagem Empírica com Distância Física e Blingagem Eletromagnética de Faraday para Testar um Fenômeno Não Local de Comunicação entre Seres Humanos, defendida pela Unicamp em 2020; e
  2. O método ontopsicológico na clínica psicológica contemporânea defendida pela PUC/SP em 2017, ambas disponíveis online gratuitamente para download no Resarchgate.

Em 1976 a descoberta de que seria possível uma interação informacional, a qualquer distância e sem deslocamento de energia, era “futurologia”, a física quântica não gozava da credibilidade que tem hoje, e alguns princípios físicos eram considerados absolutos, como o princípio de localidade, de indeterminação e a velocidade da luz.

Meneghetti tinha claro que a demonstração desse fenômeno, para além das evidências clínicas, caberia aos físicos experimentais, e sua explicação aos físicos teóricos, por possuirem métodos e instrumentos mais adequados. Não obstante, Meneghetti definiu o fenômeno atendo-se à linguagem física:

A forma ou vetor se transloca de um conteúdo energético a outro (…), o campo semântico é um transdutor de informação, transmite um código, uma imagem que, quando chega, estrutura em emoção qualquer coisa vivente, comportando uma variante emotivo-orgânica. Não transfere energia, mas é com a energia. Transdução informática significa que o módulo dá a forma da passagem à energia, mas não dá a passagem da energia. É uma informação base que ocorre antes de todos os sentidos, emoções, antes da consciência e em antecipação a qualquer símbolo. (MENEGHETTI, 2001, pp.32-33).

Isso quer dizer apenas que a verificação última das descobertas da Ontopsicologia é própria das ciências exatas, em particular da física. Com isso, não se elimina o problema da espiritualidade, porque para defini-lo bem é preciso antes conhecer a práxis energética do homem (MENEGHETTI, 2005).

Em relação ao debate quanto à precedência entre forma e matéria, recorda-se que o prêmio Nöbel em Física de 2013, conferido a Peter Higgs e François Englert, confirmou que é a convergência de campos que determinam o “fenômeno matéria”, e não o oposto (HIGGS; ENGLERT e BROUT, 1964).

É notável a similaridade da descrição do campo semântico feita por Meneghetti em 1976 e a descrição de como as partículas adquirem massa na interação com o campo de Higgs:

(1) Nível subatômico: forma-se a polarização e a vetorialização. Não há qualquer percepção. É uma onda com sinal próprio; (2) A nova indução polariza os complexos moleculares interessados. Uma consciência treinada pode localizá-lo; (3) Têm-se as primeiras ressonâncias emocionais e específicas variações de sentimento. O homem não atendo a esse conhecimento, as adverte como endógenas. O expert individua sua fonte alógena: colhe a variável, mas não a identifica; (4) A emoção é formalizada e, de modo compacto, polariza a atenção do Eu e faz excitação distinta. A este ponto, o expert pode escolher e decidir se aceitar ou respingir, mas reconhece a causa motivante. Se não é reconhecido, pode-se decidir sem exatidão. Nesta quarta fase, temos o foro interno da esfera moral, enquanto a consciência é de todo modo responsável e consciente; (5) Possibilidade da exteriorização objetiva e concreta, que pode se efetuar psicossomaticamente ou de todo ad extra. (MENEGHETTI, 2012, p.93, grifo nosso)

Nesse cenário, merece maior destaque o fenômeno físico notório batizado por Erwin Schrödinger de “entanglement”, traduzido por “emaranhamento quântico”.

Sua possibilidade foi objeto de discussão acalorada, envolvendo nada menos que Albert Einstein, que não o considerava possível, por desrespeitar o princípio físico da localidade (EINSTEIN, PODOLSKY, ROSEN, 1935) e ocorrer de modo sincrônico, acima portanto da máxima velocidade prevista por sua teoria, de onde a famosa frase “spooky action at a distance” (ação assombrada à distância).

Desde o lançamento do célebre artigo, o fenômeno foi então rigorosamente estudado na física teórica (BELL, EBERHARD, FINE, HARDY, MIZUKI, SELLERI et. al.) e demonstrado experimentalmente, tanto em nível subatômico (ASPECT, 1999), quanto em nível macroscópico (LEE, K.C. et. al., 2011), com aplicações práticas tão ousadas quanto o teletransporte (ZEILINGER, 2000:2010), em uma verdadeira corrida por prêmios Nöbel em Física.

Sabemos que ocorre, conseguimos utilizá-lo tecnicamente para finalidades práticas, mas a sua explicação implica rever a ontologia da fisicalidade (LAUGHLIN, 2005; DIEKS, 2006; MENEGHETTI, 2011).

Analogamente ao “entanglement”, que fere o princípio da localidade, o campo semântico atua a qualquer distância e de forma instantânea, o que explicaria diversos fenômenos humanos considerados extraordinários, mas tratados como ordinários na teoria de Meneghetti.

O fato é que a ciência há muito busca codificar e quantificar esta unidade intencional, ou energia-forma, por vias distintas (GURWITSCH, HANN, KAZNACHEEV, MUSUMECI, SHELDRAKE et. al.), mas a natureza do fenômeno em questão é complexa. Não obstante, dadas todas as evidências já produzidas pela ciência, é razoável supor que possa haver a passagem de informação sem deslocamento de energia também entre seres vivos (ACZEL, 2001; HAN, et. al.; KUDRYASHOV, 2011).

A dificuldade da documentação desse tipo de fenômeno com instrumentos de medida, e até mesmo a aceitação do próprio fenômeno, reside, em parte, na forma como os experimentos são delineados (HEELAN, 1989), posto que elaboramos nossos experimentos segundo premissas ontológicas e epistemológicas que não necessariamente correspondem à lógica que a natureza utiliza no interior de suas próprias interações (TELESIO, 1570).

Faz-se necessária uma nova impostação que, uma vez atuada, consentirá importantes avanços científicos, uma vez que implica uma revisão de fundamentos, dissolvendo paradoxos e dualismos aos quais estamos presos há séculos: partícula-onda, psique-soma, matéria-espírito, causalidade-finalismo etc. (BOHR, 1965; SCHRÖDINGER, 1955; KRYLOV, 2001).

Aprofundamento das Definições

O campo semântico como “transdutor informático”

  • O campo semântico é um transdutor de informação.
  • Transduz uma forma ou informação sem deslocamento de energia.
  • A forma ou vetor se transporta de um conteúdo energético a outro.
  • Transmite uma informação, um código, uma imagem que, quando chega, estrutura em emoção qualquer coisa vivente, comportando uma variante emotiva orgânica. Não transfere energia, mas é com a energia.
  • Transdução informática significa que o módulo dá a forma da passagem à energia, mas não dá a passagem da energia.

O campo semântico como “linguagem base da vida”

O campo semântico representa a informação primordial que surge antes de todos os sentidos, emoções e até mesmo da consciência, antecipando-se a qualquer símbolo. Ele desempenha um papel crucial no direcionamento do crescimento do sujeito, conforme empregado pela própria natureza. Essencialmente, é uma função universal da vida, uma técnica que a vida emprega em suas manifestações. Não compreender esse conceito é privar-se da compreensão fundamental da dinâmica por trás das manifestações vitais.

O campo semântico como “variável da atividade psíquica”

O campo semântico é o resultado de uma variável (variação) da atividade psíquica, é o projeto momentâneo da semovência psíquica. Toda direção de movimento é um campo semântico: um projeto momentâneo do mover-se da energia.

A energia psíquica é força intencionável sobre qualquer modalidade do orgânico emotivo e voluntarístico; tal intencionalidade pode ser consciente ou inconsciente. É o código de sentido de qualquer realidade; é o código de significado de qualquer evento, é estrutura de sentido. Cada um de nós é um ponto-força e se encontra entre multíplices pontos-força no interior de um contínuo dinâmico.

Descrição física do campo semântico

Para uma visão aprofundada das hipóteses explicativas do campo semântico em termos físicos, recomenda-se a leitura da Tese de Doutorado de Erico Azevedo, intitulada Existe um Campo de Informação no Mundo da Vida? Abordagem Empírica com Distância Física e Blingagem Eletromagnética de Faraday para Testar um Fenômeno Não Local de Comunicação entre Seres Humanos, defendida pela Unicamp em 2020.

De maneira muito preliminar, podemos afirmar que uma das grandes contribuições da Ontopsicologia para a ciência contemporânea é a descoberta de que a energia se formaliza por meio de imagens, e que essa realidade não faz exceção no âmbito humano. A imagem é a estrutura vetorial que dá forma à energia.

Em termos físicos, podemos dizer que não existe na natureza um quântico energético sem o seu respectivo estado energético. No âmbito humano, a imagem do campo semântico assemelha-se a uma intuição sem emoção. Por isso, o resultado do campo semântico é quântico, formal e visivo: a) quântico, porque implica variação de energia; b) formal, porque não existe energia sem uma intrínseca forma; e c) visivo porque é possível vê-lo.

De modo específico, uma hipótese razoável é que os campos semânticos correspondam a ondas associadas com ponderabilidade nula, aproximando-se da teoria das ondas piloto de Broglie-Bohm. De fato, alguns físicos teóricos, como Hardy (1992) e Bell (1992) enfatizaram que na interpretação da mecânica quântica que deriva do modelo de Broglie–Bohm podem haver ondas, representadas por funções de onda que propagam no espaço-tempo mas que não carregam energia ou momentum (SELLERI & MERWE, 1990) e que não estão associadas com partícula alguma. O mesmo conceito foi chamado de “ondas fantasmas” ou “campos fantasmas” por Albert Einstein.

O ponto de contato entre Física e Ontopsicologia é justamente este: partindo da experiência clínica, Meneghetti descobre a operatividade do campo semântico, descrito como um transdutor informático sem deslocamento de energia. Essa descrição é coerente com o modelo de Broglie-Bohm e com os experimentos de emaranhamento, mas a demonstração dessa realidade em nível macroscópico entre seres vivos ainda é futuro.

Para dar um exemplo mais próximo da nosssa realidade palpável, supondo que a estrutura do espaço-tempo seja a de um fluido, as ondas do campo semântico seriam vibrações deste fluido. Dá-se uma correlação entre emissor e receptor, sem propagação de energia, uma energia-forma ou energia-intencional, posto que a sua variação pode ser percebida conforme varia a intencionalidade real do emissor em relação ao receptor.

Não há energia sem uma intrínseca forma e, tecnicamente, isso quer dizer que quântico energético e estado quântico se dão sempre de modo inscindível: a separação é apenas racional. Em última instância, o paradoxo dualista se dissolve e a última parte do universo revela-se como sendo a informação ou energia-forma:

Toda energia variável tem a sua causa informante, ou informática. Trata-se colher o quem ou o quê que faz fenomenologia e agir em unidade de ação na contemporaneidade de outras ações vetoriais. Energia-forma significa o complexo de vetorialidades das quais corpúsculos, fótons etc. são os preciptados que determinam as formações matéricas que revelamos a partir de sensores construídos ou também utilizando nossos órgãos sensoriais. Como a física quântica tem demonstrado nas últimas décadas, as assim chamadas “partículas elementares” são sempre acompanhadas, subconduzidas e plasmadas a partir de ondas associadas cuja ação nos resulta “nula”. (MENEGHETTI, 2005b)

A energia-forma é o primeiro movimento que constitui o campo das interações intencionais, ou seja, os campos vetoriais da atividade psíquica, que em Ontopsicologia é entendida com a mesma concretude com a qual um físico concebe a matéria, sem que isso implique um reducionismo materialista.

O complexo da energia-forma, que em física fundamental corresponde a campos de ondas associadas com ponderabilidade zero, é o que Meneghetti denominou campo semântico, graças ao qual é possível conhecer sem margem de exceção os reais de energia-forma (MENEGHETTI, 2005). A expressão zero point field (McTAGGART, 2008) se aproxima e a teoria das ondas piloto de Broglie-Bohm, causal e não-local poderia ser uma base teórica, uma generalização conceitual.

Campo semântico e teoria do conhecimento

Para uma visão aprofundada da Ontopsicologia como Teoria do Conhecimento, recomenda-se a leitura da Tese de Doutorado de Erico Azevedo, intitulada O método ontopsicológico na clínica psicológica contemporânea defendida pela PUC/SP em 2017.

A Ontopsicologia pode ser compreendida como uma teoria do conhecimento concretamente atuada, ou seja, aborda o problema crítico do conhecimento com uma impostação específica e propõe como solução o uso de um critério elementar, concreto e intrínseco ao próprio ato cognoscitivo do homem.

O método ontopsicológico acrescenta ao método científico o conhecimento racional da intuição justamente por meio da descoberta do campo semântico. Ele nasce integralmente da práxis clínica e verificações em outras esferas: pedagogia, economia, teoria da decisão, medicina, física, filosofia e arte. Como o termo “intuição” assumiu historicamente diversas conotações, Meneghetti adotou em seu lugar a expressão “nexo ontológico”.

Essa passagem é fundamental, porque toda a abordagem da psicoterapia ou da consultoria ontopsicológica dependem da capacidade do técnico de utilizar o campo semântico como ferramenta de conhecimento da posição concreta do outro.

Ontopsicologia significa que o modo psíquico, ou momento reflexivo, é igual ao modo ôntico, real, à variação quântico-energética. Ela se interessa por identificar empiricamente a presença do nexo ontológico. Significa capacidade do cognoscente refletir a própria variação quântico-energética em impacto com seu objeto de conhecimento. Para tal, faz-se necessário um training de autenticação do operador de conhecimento: cientista, psicólogo, pedagogo, empresário etc., e para tal a Ontopsicologia elaborou um conjunto de instrumentos.

A Ontopsicologia não se confunde com Psicologia, sendo uma ciência interdisciplinar com objeto, método e fim específicos: uma nova abordagem ao problema crítico do conhecimento e, contemporaneamente, uma técnica de revisão crítica da consciência para a recuperação da capacidade de conhecer com nexo ontológico. Para a escola ontopsicológica, o homem é a unidade de medida da epistemologia: mede-se o real segundo a função homem.

A “ação”, em Ontopsicologia, é o que propriamente chamamos de real, ela é presença de variação, de ser, fenômeno que, mediada ou imediatamente pode se verificar. Ao afirmar que toda ação interessa na medida em que ocorre na mediação organísmica, não se entende um nivelamento materialista, ou seja, um estudo dos fenômenos da vida de forma cindida do holístico do qual são parte, mas sublinha-se apenas o lugar da ação epistemológica, ou seja, o corpo-vivo (Leib).

Nesse sentido, todo conhecimento do real é entropático (Einfüllen), é conhecido porque de algum modo provoca ações e reações organísmicas no impacto ambiente-indivíduo.

Porém, grande parte dessa ação primária é perdida e, por conseqüência, a ciência atual, inclusive a Psicologia, baseia-se prioritariamente na visão (83%) e na audição (11%), o que por si já implicaria um conhecimento setorial e parcial (VIDOR, 1997).

No contato entre sujeito e objeto dão-se no corpo-vivo específicas ações e reações, em sentido físico e no sentido de vivências intencionais, e essa comunicação-linguagem é exatamente o que Meneghetti denominou de campo semântico: “a comunicação base que a vida usa no interior das próprias individuações” (MENEGHETTI, 2001).

Adicionalmente, o corpo-vivo (Leib) assume hic et nunc uma impostação formal, uma configuração energética, vetorial, dinâmica, ainda que desconhecida ou não mensurável com os instrumentos externos atuais (BOHR, 1965) e, ao mesmo tempo, funda-se e integra-se em um ambiente ou complexo de leis físicas fundamentais, ou seja, não podemos esquecer que também o homem é feito de quânticos energéticos com forma – átomos, moléculas, etc. – e a impostação formal do corpo-vivo no holístico-dinâmico ambiental é o que Meneghetti (2004) definiu intencionalidade do Em Si ôntico: um critério concreto, não abstrato, um princípio categórico para o ser humano.

Para superar essa situação, é suficiente que o homem recupere a consciência organísmica, e isso propriamente é Ontopsicologia: modo ôntico, real, impacto, variação quântico-energética é igual ao modo psíquico, momento reflexivo-psicológico (MENEGHETTI, 2005).

O Em Si ôntico se distingue de outros princípios científicos por ser um critério de natureza, intrínseco e constituinte ao vivente-cognoscente, e não um critério convencionado arbitrariamente, do tipo simbólico-representativo, como o metro, o quilo, o segundo etc.

A consciência organísmica, a consciência sobre a vida do meu corpo-vivo, unida ao exercício da epoché fenomenológica-psicológica, onde o investigador por assim dizer anula todos os próprios elementos dominantes, permite utilizar o corpo-vivo como instrumento de conhecimento do outro (MENEGHETTI, 2011; VIDOR, 2013).

A comunicação entropática – campos semânticos – metaboliza com tal precisão e nitidez a informação, entendida como forma da ação, que se constitui em uma forma de conhecimento absolutamente peculiar, anunciada por Husserl (1936), mas até a experimentação clínica feita por Meneghetti, não prospectada pela moderna psicologia e teoria do conhecimento.

Após mais de dez anos de verificações e confrontos clínicos utilizando esse critério com o desaparecimento do sintoma, foi possível codificar um método para compreensão das imagens inerentes à experiência humana. Esse método é descrito na obra “Imagem e inconsciente”, que contém ao seu final um breve prontuário onírico, com os símbolos mais recorrentes (MENEGHETTI, 1998). O essencial sobre esta obra é a constatação de que a linguagem dos sonhos é compreensível quando o cientista utiliza o critério de interpretação biológico, e não critérios baseados nos estereótipos histórico-culturais das civilizações.

Por “imagem”, portanto, a escola ontopsicológica entende algo distinto da mera imagem visual, mas indica a projeção geométrica de um quântico energético em ação. As imagens são um registro-traçado da vetorialidade daquele quântico e, portanto, pedaços de realidade, fixam momentos da ação ou real e, nesse sentido, estudar as imagens dos sonhos e da fantasia significa buscar, por meio dessas projeções, compreender as causas originárias daquela fenomenologia: sintoma, problema etc. (MENEGHETTI, 2005).

Racionalmente podemos subdividir esse processo nas seguintes etapas:

  1. O ser, como quer que seja, é ação e à toda ação é intrínseca a necessidade de uma forma, ou seja, todo quântico energético tem um estado;
  2. O homem não faz exceção a essa lei natural e, portanto, também ele é ação na ação total, é energia na energia total, é uma unidade de ação. Se depois esta ação é química, biológica, psíquica, física etc. é indiferente;
  3. Deriva que o metabolismo inexorável do homem em situação ambiental é o seu ser dentro da ação total: somos inevitavelmente intus actionem (intuição), tenhamos ou não reflexão consciente desse fato, e todo conhecimento é o resultado desse metabolismo entropático, possível graças ao campo semântico;
  4. O mundo-da-vida é propriamente a ação total da qual somos parte integrante e constituinte, é o mundo concreto pré-lógico e pré-científico e algumas situações são mais pertinentes à identidade daquela unidade de ação, são prioritárias, tiram-na da indiferença, gerando ações e reações, ou como sugere Rupert Sheldrake (2016), ressonâncias mórficas;
  5. Por fim, a ação que age em mim (in me ago = imagem) se estabiliza em imagens, ou seja, as imagens estabilizam o metabolismo intuitivo contínuo de uma individuação no holístico dinâmico ou ambiente total e, por meio delas, é possível individuar as causas informantes daquela individuação energética em antecipação aos efeitos, intervindo segundo a funcionalidade daquela identidade histórica.

A descoberta do campo semântico leva à necessidade natural de ampliar o método científico e, no plano individual, realizar uma revisão da consciência do cognoscente para incluir a percepção do contínuo metabolismo intuitivo no método científico de conhecimento.

Campo semântico e outras formas de comunicação

O campo semântico é um elemento fundamental na compreensão das interações humanas e da comunicação em geral. Ele funciona como um transdutor de informações entre diferentes contextos energéticos ou individuações. Quando duas pessoas interagem ou dialogam, posiciona-se uma interação energética que tem impacto e se estabelece um campo semântico, com reflexos individuais em cada uma delas.

A figura abaixo, elaborada a partir da obra Manual de Ontopsicologia, resume o quanto dito até aqui:

C = comunicação cinésica, P = comunicação proxêmica, L = linguagem, C.S. = campo semântico

Os campos semânticos são anteriores a todos esses elementos, como a comunicação cinésica, que se refere aos movimentos do corpo durante a interação, a comunicação proxêmica, que envolve a gestão do espaço em relação ao outro, e L é a linguagem, que abrange tanto a linguagem verbal quanto outras formas de expressão, como a linguagem gráfica, artística e gestual.

Esta mediação de informações é sempre sinérgica: não transfere energia, mas é com a energia. Trata-se de uma distinção mais lógica que natural. Na natureza, energia e forma não são cindidos, mas coexistem, são incindíveis. Racionalmente podemos pensá-los distintos.

Ao entendermos esses elementos, adentramos no universo das interações energéticas e formais que ocorrem entre indivíduos durante uma comunicação. Essas interações são complexas e sinérgicas, ou seja, não se limitam à transferência de energia, mas também envolvem a coexistência e interação entre energia e forma, ou seja, eventuais transferências de energia nada mais são que o desdobramento ou manifestação da interação muito mais profunda e elementar que se dá por intermédio do campo semântico.

Hipótese de formulação físico-matemática

A ligação entre as teorias da física moderna, especialmente a mecânica quântica e a teoria de DeBroglie-Bohm, e o conceito do “campo da informação” ou “campo semântico” pode ser elaborada através do princípio da não-localidade e do entrelaçamento quântico, ambos centrais em entender como a comunicação e a transferência de informações podem ocorrer sem a transferência convencional de energia ou matéria.

Mecânica Quântica e Entrelaçamento Quântico

Em mecânica quântica, o entrelaçamento quântico é uma propriedade que permite que duas ou mais partículas compartilhem estados, independentemente da distância que as separa, permitindo que uma interação entre elas ocorra instantaneamente, desobedecendo a noção clássica de causalidade local.

Isso é ilustrado pelo princípio da não-localidade, que Albert Einstein inicialmente descreveu como “ação fantasmagórica à distância”. Este conceito é central para entender as relações descritas pelo “campo de informação” que propõe uma forma de comunicação e interação que transcende barreiras físicas convencionais.

Teoria de DeBroglie-Bohm

A teoria de DeBroglie-Bohm propõe uma física alternativa de variáveis ocultas não-locais para explicar fenômenos quânticos. O movimento dos elementos pontuais neste modelo segue uma trilha bem definida, primordialmente guiada por uma “onda piloto” que influencia a trajetória das partículas sem transferência real de energia, mas por meio de informação potencial.

As implicações dessas teorias quânticas ressoam com a idéia dos campos de informação, onde as interações não necessitam de proximidade física ou transferência convencional de energia, mas ocorrem em uma camada sub-estrutural da realidade que opera fundamentalmente através de conceitos de informação e estado compartilhado, de maneira instantânea e pervasiva.

Formulação Matemática Relevante

A equação de Schrödinger é central na mecânica quântica e pode ser apresentada para descrever a evolução temporal do estado quântico ψ de um sistema:

Onde:

  • ℏ é a constante de Planck reduzida,
  • 𝑖 é a unidade imaginária,
  • ∂𝑡​ representa a derivada parcial em relação ao tempo,
  • 𝜓 é a função de onda do sistema, e
  • 𝐻^ é o operador Hamiltoniano que descreve a energia total do sistema.

A equação de Schrödinger representa a derivada parcial em relação ao tempo, ψ (psi) é a função de onda do sistema, e H^ é o operador Hamiltoniano que descreve a energia total do sistema.

Esta formulação é compatível com a perspectiva de que informação quântica codificada nas funções de onda pode ser entrelaçada e coexistir em um espaço não-local, sugerindo como os campos de informação podem transcender limitações espaciais e temporais.

No tocante aos princípios do campo semântico propostos por Meneghetti e investigados empiricamente na pesquisa de Azevedo (2020), que utilizou a expressão “campos de informação” (information fields), a formulação é plenamente aderente.

Cabe porém a ressalva que nas pesquisas e descrições fenomênicas dos campos semânticos, ou campos de informação, dá-se um processo que parte das interações subatômicas sem deslocamento de energia, evoluindo para ressonâncias locais, variações organísmicas perceptíveis por meio de emoções e, finalmente, atingindo o momento reflexivo-psicológico na consciência.

Com isso, a Ontopsicologia não apenas reconhece que as equações físicas não fazem exceção à dimensão humana, mas também compreendem o fato que se faz necessária uma explicação adequada para todo o processo que vai das variações energéticas (ontos) ao momento reflexivo (psique).

Conclusão

Como vimos nesse breve artigo, para compreender o campo semântico em sua totalidade, é necessário ter conhecimentos físico-matemáticos, pois muitas das interações energéticas seguem princípios da física moderna, como o conceito de relatividade e as transformações energéticas que ocorrem em diferentes contextos.

Isso não significa que devemos aprender a matemática e a física para utilizar o campo semântico em nossas vidas, mas conhecendo um mínimo da sua linguagem podemos compreender melhor como ocorrem as interações entre seres humanos

No nível pessoal, portanto, é essencial desenvolver uma consciência congruente com a natureza, que permita uma compreensão profunda das interações que ocorrem nos campos semânticos. Isso requer um estado de consciência livre de complexos e estereótipos, permitindo uma percepção mais clara e objetiva da realidade..

No que diz respeito à contribuição que essa descoberta tem para a comunidade científica, Meneghetti destaca o quanto segue:

“Um cientista no campo das assim chamadas ciências exatas, por meio da teoria ontopsicológica, aprende a auscultar-se. De tal modo, começa a maior mediação a qualquer pesquisa. Com a totalidade do seu organismo, sabendo estas possibilidades, uniforma-se com congruidade de consciência e naturalmente releva aquilo que está buscando, se é possível; de outro modo – se não é possível – vê que aquela não é a estrada justa e segue uma outra, em base àquilo que do real o contacta. Nesse sentido, a Ontopsicologia é indispensável e preliminar a todas as ciências, uma vez que sobretudo o cientista tem necessidade da integridade de natureza, de uma consciência congruente, correspondente à ação da vida.”

Portanto, o caminho da teoria à posse do campo semântico como ferramenta cotidiana é um processo que requer empenho e dedicação existencial. Para colher o campo semântico é preciso atingir um estado de ataraxia dos estereótipos que signfica ver a realidade sem aplicar as próprias memórias.

Ver também

Aulas de Ontopsicologia

Referências

  1. AZEVEDO, Erico. Is there an information field in the lifeworld? Empirical approach with physical distance and Faraday shielding to test a non-local communication phenomenon with human beings. Tese de Douturado em Egenharia Elétrica, 2020. FEEC/UNICAMP.
  2. AZEVEDO, Erico, O método ontopsicológico na clínica psicológica contemporânea. Tese de Doutorado em Psicologia, 2017. PUC/SP.
  3. MENEGHETTI, Antonio. Campo semantico. Roma: Psicologica Editrice, 2005.
  4. MENEGHETTI, Antonio. Dizionario di Ontopsicologia. Roma: Psicologica Editrice, 2001. ISBN 88-86766-75-0
  5. MENEGHETTI, Antonio. Manuale di Ontopsicologia. Roma: Psicologica Editrice, 2008. ISBN
  6. MENEGHETTI, Antonio. Imagine alfabeto dell’energia. Roma: Psicologica Editrice, 2010. ISBN
  7. ROMIZI, Renato. Greco antico. Vocabolario Greco Italiano Etimologico e Ragionato. Bologna: Zanichelli, 2006. ISBN 88-08-08915-0
  8. BONOMI, Francesco. Vocabolario Etimologico, disponível em <etimo.it>

Voltar para Guia da Ontopsicologia

Bibliografia da obra “Campo Semantico”

Além de inúmeros cientistas citados diretamente na obra Campo Semântico, Antonio Meneghetti faz referência às seguintes obras:

  • Edmund Husserl, A crise das ciências européias e a fenomenologia transcendental, Haag: Martinus Nijhoff, 1976.
  • C. Levi-Strauss, Anthropologie structurale, Paris 1958.
  • H.G. Gadamer, Wahrheit und Methode, Tubingen 1960.
  • T.E. Bearden, Unusual energy and fantastic weapons, 1976/1977 in Energy unlimited; Solution of the foundamental problem of quantum mechanics, Defense Documentation Center, January 3/77; Photon quenching of the paranormal (time), Channel: a brief note, Defence Documentation Center, 10 April 1977.
  • L. Kervran, Biological transmutations, Swan House Publishing Co., Birghamton, N.Y. 1972; Distant intercellular interaction in a system of two tissue cultures, Psychoenergetic System, vol.1, n.3, March 1979, pp.141-142; The many-worlds-interpretation of quantum mechanics, Princeton University Press; L. Kervran, American Journal of Physics, vol.43, n.1 January 1975;
  • P. Tompkins-C. Bird, La vita segreta delle piante, SugarCo: Milão, 1975;
  • S. Freud, Abrégé de Psychanalyse, P.U.F.: Paris, 1950; Metapsychologie, Gallinard, Paris 1952.
  • K.V. Sudakov, Biologhiceskie motivacii, Izdatelstvo Medicine: Moscou, 1971; Le motivazioni biologiche, Giunti Barbera: Firenze, 1976.
  • R.V. Speck-C.L. Attneave, La terapia di rete, Astrolabio: Roma, 1976.
  • B.D. Lewin, Psicanalisi dell’euforia, Guaraldi: Bologna, 1971.
  • S. Freud, ; Psicologia delle masse ed analisi dell’Io, Boringhieri: Torino, 1975.
  • B.F. Skinner, Studi e ricerche, Giunti: Firenze 1976.
  • P.C. Dodwell, Prospettive della psicologia, Boringhieri: Torino, 1976.
  • S. Nacht, S. Lebovici, M. Bouvet, R. Diatkine, J.A. Faureau, P. Luquet, Parat, R. Held, J. Anjura-Guerra, J. Garcia Badaracco, P.C. Racamier, La psychanalyse d’aujourd’hui, P.U.F.: Paris, 1956.
  • J. Pontalis, Dopo Freud, Rizzoli: Milão, 1972.
  • G. Groddeck, Il linguaggio dell’Es, Mondadori: Milão, 1975.
  • A. Yardley, La scuola e l’infanzia: le sensazioni e sensibilità, Giunti: Firenze, 1976.
  • M. Sperling, in Intern. Journal Psychoanal., XXXI, 1950.
  • T. Giani Gallino, Il complesso di Laio, Einaudi: Torino 1977.
  • M. McLuhan-Q. Fiore, Il medium è il massaggio, Feltrinelli: Milão, 1968.
  • R. Spitz, Il primo anno di vita del bambino, Giunti: Firenze, 1962.
  • A. Lorenzer, Nascita della psiche e materialismo, Laterza: Bari, 1976.
  • S. Giannitelli, Sé ed espressione: condizioni, sviluppo della regolazione energetica e partecipazione somatica, in Rivista di Psicoanalisi, XXII, 3, 1976.
  • F. Vester, Il pensiero, l’apprendimento e la memoria, Giunti: Firenze, 1976.
  • C.L. Hull, Principles of behavior, Appleton Century-Crofts: New York, 1943; Essentials of behavior, Yale University Press: New Haven, (Conn.) 1951.
  • J.W. Atkinson, Motivational determinants of risk-taking behavior, Psychol. Rev., vol.64, 1957, pp.359-372.
  • D. Birch, The dinamics of action, Wiley & Son: New York, 1970.
  • M. Palazzoli Selvini, La famiglia dello schizofrenico; G. Benedetti, Psicodinamica e psicoterapia della schizofrenia paranoide; F. Fornari, L’Io nelle psicosi schizofreniche, in Atti del II corso di aggiornamento su problemi di psicoterapia – La psicoterapia delle psicosi schizofreniche, Milão, 1963.
  • C.G. Jung, Psicologia ed educazione, Astrolabio: Roma, 1947; Psicologia della schizofrenia, Newton Compton: Roma, 1972
  • J.H. Weakland, Etiology of schizophrenia, Basic Books: 1960.
  • M. Schatzman, La famiglia che uccide, Feltrinelli: Milão, 1976.
  • M. Cardinal, Le parole per dirlo, Bompiani: Milão, 1976.
  • S.Vegetti Finzi, Storia della psicanalisi, Zanichelli: Bologna, 1976.
  • S. Resnik, Persona e psicosi, Einaudi: Torino, 1976.
  • M. Balint, Friendly expanses-horrid empty space, Intern. Journal Psychoanal., 1945.
  • E. Berne, Analisi transazionale e psicoterapia, Astrolabio: Roma, 1972.
  • E.T. Hall, Il linguaggio silenzioso, Bompiani: Milão, 1969; La dimensione nascosta, Bompiani: Milão, 1968.
  • O.M. Watson, Comportamento prossemico, Bompiani: Milão, 1972.
  • L. Fantappiè, Il finalismo originato dalle scienza esatte, in Il valore della fine del mondo, Sansoni: Firenze, 1955.
  • E. Schrödinger, What is life?, Sansoni: Firenze, 1947.
  • P. Teilhard De Chardin, La reflexion de l’energie, Rev. Quest. Scient., Paris 1952
  • N. Bohr, I quanti e la vita, Boringhieri: Torino, 1965.
  • R. Pierantoni, Riconoscere e comunicare. I messaggi biologici, Boringhieri: Torino, 1977.
  • M. Focault, Storia della follia nell’età classica, Rizzoli: Milão, 1976.
  • M.R. Rosenzweig-A. Lemain, Psicologia fisiologica, Piccin: Padova, 1986.
  • M. Focault, Io Pièrre Riviere, avendo sgozzato mia madre, mia sorella e mio fratello…, Einaudi: Torino, 1976.
  • F.G. Alexander-S.T. Selesnick, Storia della psichiatria, Newton Compton: Roma, 1975.
  • M. Todeschini, Psicobiofisica, MEB: Torino, 1978.
  • E.W. Russel, Rapporto sulla radionica, MEB: Torino, 1977.
  • J. Wilcox, Radionic theory and practice, Herbert Jenkins Ltd.: London, 1960
  • E.W. Russel, Design for destiny, Neville Spearman Ltd.: London, 1971; Ballantine Books Inc.: N.Y., 1973
  • Abrams Ambert, New concepts in diagnosis and treatment, The Philopolis Press: San Francisco, 1916.
  • L.L. Vasiljev, Esperimenti di suggestione mentale, MEB: Torino, 1977.
  • Platão, Fedro, in Tutte le opere, Sansoni: Firenze, 1983.
  • P.L. Berger-T. Luckmann, La realtà come costruzione sociale, Il Mulino: Bologna, 1974.
  • I. Illich, Nemesi medica. L’espropriazione della salute, Mondadori: Milão, 1977.

Voltar para Guia da Ontopsicologia